A Cruzada de Catarina, capítulo 11: Anticlímax

 

Vimos no capítulo 10 como Catarina e Andrômeda fizeram um solene pacto para destruir o mal representado pelo Barão Homer Nightgale. Andrômeda propõe métodos mais diretos que os utilizados por Cathy. Mas Cathy, usando o cérebro, bola novas estratégias no capítulo a seguir. Entretanto Homer contra-ataca.

 

CAPÍTULO 11

 

 

ANTICLÍMAX

 

 

 

 

CATHY – Não me esqueci do vídeo que nos mostra em casa da Duquesa Éden. Você pode fazer alguma coisa a respeito?

— Posso lhe trazer o vídeo.

— E o quadro?

— Isto já é pedir muito. Homer perceberia e precipitaria a situação. Mas posso lhe mostrar onde se acha escondido.

— Então, meu amigo, é tudo mais simples do que parece. Mas diga... e Andrômeda?

— Andrômeda – e o anjo escandiu as palavras – é uma servidora de Deus e merece de todo a sua confiança.

— Está bem. Faça-me então este favor. Traga-me o vídeo... e eu estarei livre para a combinação final com ela.

 

 

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Catarina ainda queria mais investigações. A vontade de consertar, de minimizar os estragos causados por Homer a tantas vidas humanas, era poderosa; e ela o fazia por inclinação do coração, como uma obrigação de consciência, sem se julgar uma santa ou beata por isso.

Então, quando se preparava para uma visita dominical, foi chamada ao celular por Tijuana, seu contato na Scientific Intermovies:

— Cathy, está havendo uma coisa esquisita envolvendo o seu nome...

— O que você quer dizer com isso, Tijuana?

— Há uma pressão para que a Intermovies não lhe dê mais serviços...

— O que você quer dizer, repito? Pressão de quem?

— Eu só posso dizer que gente poderosa quer que você seja boicotada, que não lhe demos mais serviço. O que você andou fazendo, Cathy? Não se deve mexer com certas pessoas!

— Que pessoas, Tij? Fale mais claro!

— Aí é que está! A diretoria não quer se que fale os nomes das pessoas que ordenaram o boicote...

— Como ordenaram, Tijuana? Vocês recebem ordens de mafiosos? Não posso acreditar...

— Cathy, procure compreender a nossa posição. Nós gostamos de você, a sua voz é apreciada, e estamos segurando a sua barra... mas não sei por quanto tempo. Ou você para, ou nós não poderemos mais contratá-la.

— Bem, bem, Tij. Parar o que?

— Parar o que quer de errado que você está fazendo!

— Tij, não seja ridículo. Parece até aquela história do Kafka onde um sujeito é processado e ninguém lhe diz porque. Não posso atendê-lo, porque não sei do que é que você está falando. E o nosso contrato é por mais três anos, já sabe que não podem me dispensar sem uma indenização vultosa. E afinal você e eu não somos amigos?

— Somos – a voz dele denotava desânimo. – Você deve saber com quem andou mexendo, por isso é supérfluo lhe falar. Bem, reflita no que nós conversamos.

— Tijuana, pela milésima segunda história de Sheerazade. Se você acha que eu sei, por que não fala às claras? Dê nomes e fatos.

— Não posso fazê-lo, Cathy.

— Bem, então acho que não temos mais nada a conversar. Quando quiser ter uma conversa lógica comigo, é só me ligar.

 

 

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Cathy procurou não se deixar perturbar por Tijuana. Pegou o seu besourinho, partiu em vôo e desenvolveu algumas manobras de despistamento. Andrômeda emprestara-lhe um aparelhozinho que ajudava muito nesse mister. Finalmente estacionou numa pracinha sem saída, pitoresca e ajardinada, no bairro do Elefante Branco.

A casinha de muro branco tinha um setter de patas peludas e olhar simpático, tomando conta da frente. Ele latiu e abanou a cauda para Cathy; e uma garota de short e de pantufas cor-de-rosa veio abrir o portão.

— Eu não sei como você me convenceu – disse ela, ao servir um café com creme na copa. – Normalmente gosto de considerar o Alfredo como página virada.

Cathy possuía um dom para convencer as pessoas, principalmente as de boa vontade. Simpatizara com Kátia, certamente uma das vítimas de Homer Nightgale.

Esta serviu-se de bolinhos de queijo e explicou:

— Eu sou vendedora, representante. Entenda, é uma profissão difícil e não tenho quem me ajude. Não sou interesseira, nem uma vampira, eu amava o Alfredo. Só que eles moravam com os pais, que tinham dinheiro, e ele era engenheiro e bem colocado. Tinha futuro pela frente. Esse casamento ia me tirar de dificuldades e garantir o meu próprio futuro. O que aconteceu acabou comigo; hoje, como de hábito, eu corro atrás de dinheiro para pagar o meu aluguel, que ano que vem já vai aumentar. Perdi o amor e perdi a segurança material. E queria ter três filhos com ele.

Cathy procurou agir com tato:

— O que você teria a dizer do Barão Nightgale?

— Por que o seu interesse nele?

Catarina relatou o que havia acontecido com sua mãe.

— E você acha que pode combater esse homem?

— Eu posso, Kátia. Lena não lhe contou o que eu fiz?

— Contou, sim, que ela escapou dele graças a você. Por isso eu a recebi. Mas sinta, é terrível para mim pensar que o meu noivo se deixou seduzir por um homem, que teve relações sexuais com ele, e que se matou por vergonha disso. Por que ele não falou comigo, antes de recorrer a um gesto desses? Eu o perdoaria, se me pedisse o perdão.

— Eu até entendo que ele tenha caído nessa esparrela. Homer é uma voragem de tentação: ele é protegido por um pacto diabólico. Isso, Kátia, eu tenho certeza.

— Bem. Eu não duvido. E o que se pode fazer contra ele?

— Você tem idéia de quantos criados há em sua casa?

— Quando eu frequentei lá... vi oito. Duas mulheres na limpeza, duas na cozinha. O resto era chofer, mordomo, jardineiro e secretário. E há três seguranças.

— Acha que são perigosos?

— Os homens eram todos uns brutamontes. O jardineiro, Aristides, parecia até o João Bafodeonça. Mas por que pergunta isso?

— Porque eu estou levantando provas contra Homer e gostaria de interrogar os criados. Eles

moram lá?

— Isso eu não sei. Talvez um ou outro.

— O que você me diz das mulheres?

— Falam pouco, pareciam assustadas. Há qualquer coisa muito estranha no ambiente daquela casa.

— Pois é. Espero que tenha me entendido, Kátia. Esse homem é um perigo para a sociedade e deve ser detido. Ele é como uma peste: por onde passa causa estragos.

— Então a sua missão é sagrada. Pode contar comigo... no que estiver ao meu alcance. Mas o que se poderia fazer contra um homem tão poderoso?

— Às vezes, Kátia, uma palavra sussurrada de ouvido em ouvido pode dar resultados esplêndidos. No nosso caso: há quantos anos Homer mantém a sua juventude? Que idade ele tem, de fato, e que idade parece ter? Quando ele começou na sociedade? Se começar a ser comentado que a sua juventude perpétua é fruto da feitiçaria, já começará a ser olhado de outra maneira.

— Fruto da feitiçaria! É espantoso, mas faz sentido!

— Eu consegui descobrir a idade do Barão Homer. Ele tem quarenta anos, Kátia, e a mesma aparência de quando tinha vinte.

 

 

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Andrômeda chamalá-ia de teimosa, sem dúvida. Entretanto, o método de tocar no assunto proibido... o grande tabu de Homer... mostrou ser eficaz. Fotos de jornais e cinejornais, resgatados via Cosmonet, bem como notícias, documentações que mostravam a antiguidade de Homer, foram circulando entre pessoas escolhidas. E quando Homer procurou a fita vídeo-holográfica que pretendia usar para acusar Cathy, viu que ela havia sumido misteriosamente.

 

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Uma tarde, chegando à portaria de seu prédio, Catarina avistou uma figura conhecida, que se ergueu ao vê-la. Um rapaz de cabelo escovinha e olhar ingênuo:

— Ênio! Você por aqui!

Abraçaram-se e beijaram-se.

— Eu vim trabalhar em São Paulo – observou ele, alegre. – Morria de saudade de você.

— É, uma eternidade se passou... eu abandonei você, não foi?

— Eu me preocupo com você, com a sua cruzada...

O celular de Cathy tocou.

— Alô!

— Cathy?

— Sou eu!

— Cathy, aqui é a Laud! Aconteceu uma coisa horrível!

— Você quer dizer... com Lena?

— Sim! Ela e o namorado foram atropelados e estão no hospital, em estado grave! Oh, meu Deus!

— Irei imediatamente.

 

 

Um grande golpe para Cathy, o atentado contra seus amigos! A chegada de Enio, personagem que apareceu antes apenas no capítulo 2, fará alguma diferença? Andromeda agora trouxe os seus dois robôs de estimação. A mascarada parece disposta a uma solução radical. Homer, porém, prepara o que poderá ser um cheque-mate nas heroínas...

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CAPÍTULO 12:

A HORA DA DECISÃO 

 

Imagem Freepik 

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 08/08/2024
Código do texto: T8124516
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