Foi Assim (Parte 5) "Foi Lindo. Deliciosamente Lindo."

Era um sábado de manhã, anos atrás.

Acordei sorrindo lembrando dos acontecimentos da noite anterior.

Foi um lindo sonho de uma noite de verão.

Um sonho real, que deixou marcas intensas na minha vida.

Um sonho doce, repleto de deliciosas lembranças.

Foi bom.

Não, não foi bom.

Foi ótimo.

Foi lindo.

Ainda hoje, 35 anos depois, lembro de cada detalhe daquela noite.

Foi absolutamente especial.

Era uma sexta-feira à noite. Uma colega de escritório resolveu fazer uma festinha na sua casa. Uma festa na metade da década de 80, ao estilo dos anos 70, com as pessoas dançando diversos tipos de música, inclusive as famosas lentas.

Uma festa à meia luz.

Cada participante levava algo (os famosos comes-e-bebes).

Quando cheguei, só uma coisa me incomodou. Não gostei da presença de um colega com o qual eu tinha brigas diárias.

Mas, enfim...

Impressionante como nós dois não nos suportávamos.

Felizmente, ele trabalhava em um prédio do outro lado da rua e, portanto, não precisávamos interagir o dia inteiro.

Mas, às vezes, me parecia que ele fazia questão de ir ao escritório encher o meu saco.

Sempre com a desculpa de tomar um café.

Aliás, foi lá que aprendi a gostar de café.

Eu não suportava a bebida, já que ela me trazia terríveis lembranças do gosto horroroso de um remédio que tomávamos na infância.

Arghhh! Horrível!

Óleo de rícino chama-se. Eu, às vezes, me pergunto se as pessoas ainda fazem uso de tal substância. Sim, substância é como me refiro à tal coisa. Buenas, também, esse troço limpava até pensamento.

Nossa!

Enfim, meu pai enchia uma colher de sopa com açúcar (tentando, absolutamente sem sucesso, tornar esse negócio mais palatável), colocava o óleo, mandava a gente fechar o nariz e engolir tudo de uma vez, e nos dava café preto na sequência.

Por muitos anos eu não conseguia tomar café preto. Só o aroma dessa bebida (que hoje amo de paixão) já me provocava engulhos.

Eca!

Mas no escritório, cada semana uma das funcionárias era responsável por fazer o café. De manhã e de tarde.

Aprendi a preparar com a Dada e com a Charlote. Tá! No início, meu café não era bom. Sempre ficava ou muito forte, ou o famoso “chafé”.

E foi lá que fui me acostumando a saborear essa deliciosa bebida e a eliminar das minhas lembranças a referência ao famigerado óleo.

Ainda bem. Café é vida! Já faz uns bons anos que amo de paixão.

Enfim, estávamos na festinha, a música tocando, comes-e-bebes rolando e esse colega que eu não suportava resolveu sentar-se justamente ao meu lado e começou a puxar assunto.

No início fiquei meio sem graça, mas o papo estava rolando e foi uma conversa super agradável, que fluía naturalmente.

Acho que foi a primeira vez que sentamos e conversamos sem brigar.

Ficamos nessa por umas três, quatro horas, acho, que pareciam ser somente cinco minutos. O tempo voou! Acontece com os momentos bons.

E, em um dado ponto, ele pegou na minha mão. E ficamos conversando, assim, de mãos dadas. De vez em quando, rolava um carinho, um toque gentil nos braços.

E fomos nos sentando mais e mais próximos e ele tentou me beijar.

Quando ele se aproximou, eu virei meu rosto oferecendo minha bochecha. Eu fiquei meio “Como assim?”, sem saber como reagir, afinal eram anos de briga. E agora nós iríamos nos beijar?

Aquele beijo não aconteceu, mas eu realmente me dei conta de que, sim, eu queria beijá-lo.

E alguns minutos depois, eu tomei a inciativa.

E dessa vez, quem virou o rosto oferecendo a bochecha foi ele.

Ele, literalmente, pagou com a mesma moeda.

Fiquei p*** da vida!

Mas o clima estava lá. Ambos queríamos e logo aconteceu.

E eram beijos intensos e deliciosos e ele perguntou se eu queira dar uma volta de carro com ele.

Eu disse “Sim, eu quero” sem nem pensar.

Às vezes, eu gosto de fazer as coisas sem pensar muito. Deixar o corpo falar. Óbvio que eu não conjecturava isso dessa maneira naquela época, mas hoje eu sei.

E é bom.

Fomos ver as luzes da cidade de cima de um dos morros.

Tão bonitas!

E, claro, nos beijamos novamente.

Intensamente. Sim, intensamente.

Mãos indo aqui e acolá, passeando pelos nossos corpos.

Eu nunca tinha chegado tão longe e, definitivamente, eu não queria parar.

Em algum momento comentei “Desse jeito vamos parar em um motel.”

E ele olhou bem dentro dos meus olhos e disse, “Vamos?”

E eu olhei para ele e disse, “Sim. Vamos. Eu quero.”

Eu queria muito.

Meu corpo gritava isso. Meu corpo se insinuava para ele.

Contei que seria a minha primeira vez.

Foi lindo de ver o jeitinho com que ele me olhou.

E ele me disse, “Fica tranquila, Mônica. Vou cuidar de você com muito carinho. Vai ser lindo”.

E foi.

Foi lindo.

Deliciosamente lindo.