O diário de Ana Capítulo X

E foi nessa mesma noite que Carlos decidiu o que queria ser, psicólogo, não sabia expressar tanto o porque, mas de alguma forma sua atitude colaborou pra que ele tomasse essa decisão, e também tinha em si uma curiosidade peculiar de querer conhecer melhor a mente humana.

E aconteceu que desde de aquele dia, Lucas e principalmente Carlos aproximaram muito de dona Leda, que se revelou uma avó carinhosa e amiga.

Carlos começou a compreender aquilo que ele mesmo havia dito, as pessoas podem sim mudar em todo caso para melhor ou para pior, isso se reflete na vida de todos.

E dona Leda com certeza mudou para melhor e conseguiu com isso impactar muito a vida de Carlos.

Os dois podia-se dizer também que agora eram melhores amigos, pois conversavam muito, suas ideias eram compatíveis.

Numa outra noite de céu estrelado, dona Leda chamou Carlos para conversar, seu rosto possuía um aspecto diferente contrário do que ela havia demonstrado nos últimos meses, aparentada um rosto sério e centrado.

-Carlos meu neto assente-se aqui perto da vovó, quero te contar um segredo.

O coração dele disparou naquele momento tentando adivinhar do que se tratava aquele suspense.

No rosto de dona Leda desceu uma lágrima densa de sentimento e ela começou a dizer:

-Seu pai Estêvão fugiu de casa com dezoito anos, ele sofreu muito nas mãos do meu marido, pai dele claro. Foi muita das vezes espancado por ele, e eu sofria demais pois não podia falar nada. Certa vez cheguei em casa e Estêvão estava aos prantos pedindo pelo amor de Deus, que eu levasse ele embora dali. Eu não podia fazer nada, não tinha pra onde ir.

Eu vim de uma família muito pobre e não tinha nenhuma condição de sustenta-lo sozinha.

Então numa madrugada ouvi passos no corredor, levantei para ver o que poderia ser, era Estêvão com uma trouxinha de roupa nas mãos, quando me viu disse-me, mamãe vai dormir por favor eu não quero ter que me despedir da senhora. Seu rosto estava transtornado, e eu não queria ver meu filho partir, porém não queria mais presenciar meu marido batendo em Estêvão, fiquei entre a cruz e a espada, de súbito o abracei bem forte e deixei-o ir.

O pai nem se preocupou de procurar, e ordenou-me que se alguém perguntasse de Estêvão era pra dizer que ele foi terminar os estudos e foi morar com parentes.

Passei mais de anos sem ter notícias dele, foi quando estava andando cabisbaixa numa rua perto de casa e ouvi uma voz dizer:

- Mamãe?

Não acreditei, era Estêvão fardado, tornou-se um homem, meu Estêvão estava na minha frente como um sonho. Abracei-o muito, muito, muito. Sentamos na praça e conversamos por horas, ele me disse que passou dias na rua, quando um senhor lhe perguntou o que um rapaz novo estava tão maltrapilho, então meu Estêvão explicou para o homem tudo que havia acontecido com ele. O senhor levou-o para sua casa, lhe deu comida, roupas e sapatos novos, ele era coronel, por isso ingressou Estêvão para o exército no qual ele estudou e se formou.

-Agora eu sou um rapaz formado mamãe. Exclamou Estêvão sorrindo.

Eu não me contive de tanto emoção, meu Estêvão formado. Agradeci muito a Deus.

Depois desse dia nós nos encontrávamos uma vez por mês, pois onde ele morava era muito longe.

Passado alguns anos Estêvão conheceu sua mãe e casou-se com ela, sua mãe queria ter um bebê, passou-se quatro anos tentando, foi quando eles decidiram adotar uma criança, eu não concordei com a atitude deles, confesso que fui ignorante. Nesse período Estêvão voltou a frequentar minha casa, porém não conversava com o pai.

Quando você foi lá em casa pela primeira vez, que eu vi seu rostinho Carlos, eu queria te abraçar, te acolher, mas meu marido me proibiu de chegar perto de você, ele e Estêvão eram tomados de raiva um pelo outro, o que dificultou muito nossa convivência.

Por fim meu marido ficou muito doente e chamava todos os dias pelo nome do filho, foi aí que implorei para Estêvão ir visitar-nos, e foi assim que acabou naquele trágico acidente.

Meu marido se lamentou até o último dia de sua vida pela morte do filho e porque não conseguiu pedir perdão a ele.

Continua...

Patrícia Onofre
Enviado por Patrícia Onofre em 03/01/2019
Reeditado em 04/08/2021
Código do texto: T6541883
Classificação de conteúdo: seguro