O diário de Ana IV

Carlos dobrando a esquina sentiu um barulho vindo de seu interior, nada mais era que seu estômago avisando que estava na hora de comer alguma coisa, então olhando plano ao seu redor avistou um mercadinho simpático e exclamou:

-É aqui mesmo que farei uma pequena compra, Carlos sabia cozinhar, sua mãe adotiva ensirara o básico justamente pensando que algum dia ele pudesse se virar de alguma forma.

Saudades dela, pensou Carlos, quanto amor ela tinha para com ele, quanto carinho, por isso o coração dele apertara tanto quando pensava nela.

Enfim comprou só o que precisava sem muita extravagância e se dirigiu a sua nova residência. Ao entrar Carlos fez um reforçado lanche e voltou-se para o quarto onde colocara o diário em baixo do colchão. Logo em seguida acomodou-se entre dois travesseiros pegou o diário para retomar sua leitura. Então acompanhou com os olhos de onde havia parado e lá estava escrito.

"Relato esses dizeres pois um filho me foi tirado e desde então eu me entreguei a solidão.

Eu sou filha única, meu pai é reformado do exército, minha mãe dona de casa, eu sei que meu pai queria que eu nascesse homem, por isso desde pequena sinto que ele demonstra uma leve rejeição em relação a mim, mamãe diz isso ser bobagem, mas eu sinto que não, no fundo queria sim que eu fosse homem e acompanhasse o machismo da época.

Mas mamãe... adorável, linda, do sorriso avantajado, e da voz mais doce do mundo.

Eu tive uma infância muito calada, também qualquer manifestação minha que sobressaisse das sobrancelhas do papai ele já brigava comigo, por isso me sentia muito presa e sozinha.

Eu fui crescendo mergulhada em fatos isolados de violência doméstica, como naquela vez que papai me esbofetou até sair sangue do meu nariz, motivo? Até hoje não sei, parecia que estava com raiva de alguma coisa e queria descontar em mim. Naquela noite mamãe chorou muito pois apanhou também de papai, e por que era assim que ele fazia toda vez que se irritava, descarregava sempre sua raiva em nós."

Continua...