UMA LOURA À JANELA -24
James rememorou rapidamente a conversa que haviam tido naquela manhã. Tinha a certeza de que não lhe havia falado a respeito de onde o cadáver de Desmond fora encontrado. Mas procurou desconversar e disse calmamente:
– Eu me esqueci de ter contado isso. O fato é que o tenente O’Connor tem feito o possível e o impossível para manter tudo no maior sigilo e longe dos holofotes da imprensa. Sem dúvida, a história estaria ocupando as primeiras páginas dos jornais, se o repórter que estava no caso não tivesse sido encontrado morto à faca. Ele não teve tempo de escrever uma linha sequer a respeito do assassinato de Desmond Farrell.
Mais uma vez, James ficou observando atentamente as reações da mulher. Em seguida, acrescentou:
– É bem possível que você conhecesse a vítima. Ele tinha uma coluna no Evening Star. Escrevia sobre o mundo cinematográfico. O seu nome era John Sanders.
Não havia dúvida de que aquela notícia chocara Verna Vale. A sua face perdeu totalmente a cor. Em seguida, tornou-se cinzenta. Com isso, as manchas de ruge em seu rosto e o batom exageradamente vermelho dos lábios deram-lhe, por um momento, uma aparência horrível. Sua mão, que descansava sobre o braço da poltrona, embranqueceu.
– John Sanders! – Exclamou a atriz, repetindo o nome. – Sim... Eu o conheci. Ele está morto?! Mas isso não pode ser! Ele... – Reprimiu-se, procurando desesperadamente recuperar o sangue-frio. – Naturalmente, eu não conhecia muito bem o sr. John Sanders. Eu só o conhecia profissionalmente. Mas sempre me pareceu um homem encantador. Como... como aconteceu?
James revelou-lhe o que sabia a respeito da morte de John Sanders. Porém, não contou que ele e o tenente O’Connor sabiam que ela e o jornalista eram casados. Quando terminou de falar, Verna atravessou a sala e foi até o barzinho.
– Em geral, eu não costumo beber durante o dia – disse. – Mas acho que hoje preciso de um estimulante. Quer alguma coisa?
– Uísque – respondeu James distraidamente.
O detetive estava tentando encontrar o lugar de Verna Vale naquele quebra-cabeça. Talvez ela fosse obrigada a sair de um papel de coadjuvante para o de protagonista. Pelo canto do olho, percebeu que a mulher enchia um cálice de conhaque e o bebia de uma só vez.
– É realmente um choque para mim saber que o sr. Sanders foi assassinado – falou Verna.
Vendo-a naquele estado, James resolveu contar-lhe tudo. Havia a possibilidade de que ela ficasse suficientemente perturbada e deixasse escapar toda a verdade a respeito do dono da faca que matara Darrell Desmond.
– Los Angeles tem policiais muito competentes – anunciou James, aparentando desinteresse. – São homens espantosamente hábeis em descobrir detalhes ocultos e segredos...
Verna entregou-lhe um copo com uísque.
James encarou-a. Depois, falou:
– Por exemplo, o tenente O’Connor descobriu logo o seu casamento secreto com Desmond Farrell. – Fez uma breve pausa. Então, com o olhar fixo nos olhos da triz, completou: – Ele também não demorou muito em saber de seu casamento com John Sanders... Agora, John Sanders e Darrell Desmond estão mortos!
continua na próxima sexta-feira