Primeira Viagem
Com a mente meio perdida, mas ao mesmo tempo com olhos vivos, Dom Esquilo seguiu à risca as recomendações de seus pais; e trafegando ligeiro pelos fios de eletricidade, chegou no ponto crucial, ou melhor, no local exato que deveria descer, pois, naquele território não havia travessia aérea.
Desceu das alturas. Espreitou com as narinas o perigo e parando no acostamento, olhou para um lado e outro, fez o sinal da cruz e atravessou rápido e rasteiro a Avenida. Atravessou tão veloz, que o vento pendulava a gravata, quase enforcando-o. Tomado pelo desespero e o medo, por pouco a maleta com seus pertences não caiu na pista.
Estava em viagem, cuja finalidade era participar da conferência sobre as Boas maneiras de interação no trânsito entre motoristas e pedestres. Curiosamente, naquela semana todos se respeitaram e os números de mortes e acidentes no trânsito foi Zero.
Porêm, compensados nas semanas seguintes; fato tardíaco, pois Dom Esquilo voltara para a floresta e junto de seus pais, estão de cabeça para baixo, atarracados no pé de coqueiro, roendo coquinhos e olhando o mundo ao contrário. Entre eles, adotam o lema: "Correr risco para quê, afinal, a morte trafega, vai de encontro aos afoitos, em alta velocidade".
Foi a primeira e a última viagem de Dom Esquilo à cidade. Por ele e família, a correria desenfreada em busca do nada é alento para quem é de Fórmula 1. Quando algum falante reage ao que pensam, astutamente, perguntam: "Ayrton Senna do Brasil, correu, correu, correu. Você sabe em quê abismo ele parou"? E todos os apoiadores de velocidades se calam; pois, sabem que existem mais coisas entre o céu e a Terra, que os vossos estúpidos, velocistas e egoísticos pensamentos imaginam.