Encontrar-se é Questão de (tá) Lento
Seo Bertinho, como é carinhosamente chamado nos arrebaldes, é um moçoilo animado e feliz da vida. Acompanhando seus pais de gravata, sapatinhos lustrados e a bíblia debaixo do sovaco, chegara frequentar a "Primeira Igreja Encontro de Deus com seus Filhos" por muitos anos. À ocasião, para alegria e deleite dos progenitores, cantava de peito estufado e com voz afinada no coral da igreja. Lindo, lindo, guarda as recordações do cabelo jogado de lado em vários álbuns de fotos de família. Com o tempo, segundo justifica, por não se identificar com coisas divinamente sagradas de Deus todo poderoso, preferiu se desligar da religião. Seus pais seguem firmes e para consolidar o coração em Deus, batizaram-se nas águas correntes do mar. Está previsto comemorar o batismo de fiéis seguidores do Pai Celestial, juntamente com a santa ceia de virada de ano. Seguindo as ordens doutrinárias da igreja, não comemoram o natal. Respeitam, mas é dos consumistas católicos. Aliás, retiraram dos nichos e paredes, os santos, flâmulas, bandeiras, garrafadas, presépio, bengalinas, sininhos, guirlandas, chaminés, tudo concernente à festa maior de final de ano.
Bertinho hoje está no auge de suas 35 primaveras e não fuma, não bebe e não acompanha as sombras do mal caminho. Todavia, com seu raciocínio astuto e rápido, ao mesmo tempo cauteloso, equilíbrio metal e percepção aguçados, fuçando os seus 25 anos de obscuridade no mata tempo da internet, aprendeu jogar xadrez e agora tendo o que fazer, passa dias e dias nas rodas de amigos em praças, jogando. Sua genialidade não lhe permite perder uma partida, sequer. Por isto, é muito bem quisto. Quando perguntado sobre a soberania da felicidade e a correria do dia a dia que os homens levam, responde que na tudo vida e encontrar-se no meio da multidão de cartas marcadas é apenas questão de tá lento; quando não, culpa do Presidente Temer que está cavando a cova e enterrando o nosso estúpido povo. O mocinho sempre tem uma carta compatível ou um curinga na manga para combater o onirismo dos corsários e transcendências dos piratas. Travessias tormentosas exigem precisão no descarte.
Felisberto é felicíssimo e por não possuir nenhuma habilidade para seguir o exemplo de seus pais, que suam a cara malhando a enxada em solo duro no campo, tem tempo de sobra para escrever poemas estilo Augusto dos Anjos, filosofar as intimidades do vazio da maiêutica de Sócrates e amar a boa vida no superlativo. Com essa passada e rigorosa premissa de vida, a estrada nunca lhe faltará e por mérito, a caminhada lhe será leve.
- Amém!