LEI DA GRAVIDADE
Não saberia dizer quando fora a primeira vez que ouvira falar dela; mesmo, porquê, na época, não lhe causara qualquer curiosidade sobre o assunto. Essa lei apenas despertou para ele, quando caiu do telhado e fraturou três costelas. No hospital, o médico comentou com ar bricalhão: - É, seu Oswaldo, a lei da gravidade é fogo, tome cuidado!
Depois desse dia, passou a pesquisar sobre tão famigerada lei. Estudou-a de Newton à Einstein; queria compreendê-la de cabo a rabo. Não porque o agradasse tão enigmática força da natureza, muito pelo contrário, quanto mais sabia mais abomináva-a. "Teria o criador errado seus cálculos e pesado na mão quando urdiu tão abominável força" - refletia. Sabia haver forças atômicas mais poderosas, mas essas, julgava serem necessárias, para conter a ferro e fogo, forças nucleares abomináveis; que, se não amarradas à fortes correntes, destruiriam toda a criação. Mas a Lei da Gravidade, não. "O homem, pudesse flutuar, como os astronautas fazem quando em órbita da terra, não precisaria de tanto esforço para viver. Seria mais livre, mais feliz. Até talvez não houvesse tantas guerras por novas terras" - defendia.
Passou, então, a defenestrá-la e a culpá-la por toda e qualquer mazela do mundo. Foi assim até o dia de sua morte, quando um pouco antes de fechar os olhos em definitivo, chamou o filho mais velho e sussurou-lhe no ouvido o desejo de ser "enterrado" no espaço sideral.
- Mas pai, dizem que lá no plano espiritual não tem essa tal lei da gravidade - disse o rapaz acarciando-lhe os cabelos.
- Oh, filho, por que não me dissestes antes? - Disse isso e se apressou em cerrar os olhos.