MAIS UM DIA

Todos os dias ela acorda buscando um motivo para se levantar. Algum outro motivo, além das obrigações cotidianas. Algo além da sobrevivência. Mais um dia está começando.

Antes mesmo de abrir os olhos, repassa os pensamentos do dia anterior, dos outros dias também. Os pensamentos se repetem há vários dias, mas a cada manhã eles se renovam, se vestem como novas reflexões. No fundo, ela sabe que é só uma maquiagem para os mesmos velhos pensamentos.

O peso de uma vida monótona a mantém presa à cama, como se houvesse uma enorme rocha sobre seu corpo, impedindo-a de se mexer. Ela quer se livrar daquilo, da pedra invisível que quase a sufoca, mas não tem força suficiente para isso.

O despertador insiste em lembrá-la das obrigações. Ela ignora. Tenta calá-lo por mais um tempo, enquanto procura o impulso mínimo que a tire daquele lugar de refúgio.

Houvesse escolha, não sairia dali, não levantaria da cama. Ao menos, não hoje. Adoraria poder escolher a solidão e o silêncio. Não ver ninguém, não falar com ninguém, não pensar em nada, espantar todo pensamento. Escolheria dormir o tempo todo, para não ver, não sentir, não pensar. Infelizmente, essa não é uma opção aceitável. As lutas que travaria para desfrutar desses momentos de fuga são maiores do que as que enfrenta para se levantar. Ela não precisa de mais esse desgaste. O dia está apenas começando.

Mais uma vez o despertador, esse tirano, lembra-a de que o tempo não espera as coisas se ajeitarem, não espera os pensamentos se alinharem e não espera a dor passar. O tempo não espera. O tempo urge, exige rapidez, agilidade.

Apesar de seu corpo pequeno e frágil, sente-se pesar uma tonelada. Peso da alma. Peso das lembranças. Peso da culpa. Peso das frustrações. São muitos pesos! É necessária muita força para se levantar com tanto peso em si.

Tenta não pensar no passado, nas escolhas que fez ou que não fez. Tenta projetar um futuro. Não um futuro longe, distante. Ela pensa apenas em chegar ao fim de mais um dia, talvez mais uma semana. "Basta a cada dia o seu próprio mal". Repassa mentalmente as tarefas diárias, procurando organizar os pensamentos em torno de algo mais útil, mais palpável.

Novamente o despertador, desesperado, interrompe esse momento, chamando-a à urgência dos compromissos. O tempo não espera e escoa rápido.

Relutante, luta contra seus muitos pesos e levanta-se, com esforço. A cama agarra-lhe o corpo, tentando puxá-la de volta à inércia. Ela respira fundo, segura o ar por um momento, e ergue-se no impulso da expiração. O dia está apenas começando.

O banho ajuda a aliviar o peso, afasta a sonolência e reanima o vigor. O hálito fresco que a pasta de dente proporciona dá uma sensação de conforto. Uma roupa limpa e um pouco de maquiagem ajudam a disfarçar o desânimo. Toma uma xícara de café forte, puro, sem açúcar, para aquecer a mente e a alma. Coloca o sorriso tão admirado no rosto e sai.

O dia está apenas começando. Mais um dia de luta. Um combate interno, uma luta de desejos. Uma luta de alma. Mais um dia como tantos outros. Ela respira fundo, sorri, e segue lutando. Mais um dia, que está apenas começando, cheio de surpresas iguais.

Lamede Sarah
Enviado por Lamede Sarah em 29/06/2022
Reeditado em 30/06/2022
Código do texto: T7548975
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