INSÔNIA
As últimas atividades foram pesadas e cansativas. Ela está esgotada, mas o dia ainda não acabou. O cansaço é tanto que ela mal consegue respirar. Abre um vinho e serve-se de uma taça só para relaxar. Poderia ter feito um chá, mas acha o vinho mais aconchegante.
Terminado os afazeres, ela prepara-se para dormir. A segunda taça de vinho deixou-a mais que revigorada, sente-se animada e mais leve. Organiza tudo para o dia seguinte, que começará bem cedo e promete ser bem agitado. Deita-se sozinha com seus pensamentos. O sono não vem.
Ainda deitada, decide dar início a um novo projeto. Na verdade, é um antigo sonho que ela havia engavetado, abandonado à beira do caminho, e que ganhou um novo fôlego naquelas últimas horas. Ela sabe que não é algo para se fazer agora, é um projeto que levará tempo. Ansiosa, mal consegue esperar para começar. Remexe um pouco mais nas gavetas da alma para resgatar o velho sonho e trazê-lo novamente à luz. Ela volta a sonhar acordada.
É tarde já, e precisa dormir, encerrar esse dia pesado, esperar o novo dia que iniciará em breve. Fecha as gavetas, com o rascunho do projeto já esboçado. Em alguns minutos já será amanhã e poderá dar continuidade aos sonhos. Desliga os equipamentos e vira-se para se desligar também.
Pensamentos, sentimentos, ressentimentos, projeções, assombrações... Passado e futuro brigando em sua mente ansiosa. Um passado doloroso, um futuro incerto, um presente frustante. Uma história que poderia ter sido, outra história que poderia ser, uma história que talvez nunca seja. Tantas coisas dançando em sua cabeça enquanto ela tenta dormir. A noite está silenciosa, todos dormem ao redor, mas sua alma está barulhenta e ela não consegue dormir.
O amanhã já chegou há algumas horas, e ela calcula que não haverá tempo suficiente para dormir o mínimo necessário. Embora saiba disso conscientemente, seus olhos recusam-se a fechar, sua mente não desliga. A insônia instala-se, visitante indesejada ou amiga de outras datas. Tanto faz. Uma vez que esteja aqui, ela sabe que não adianta lutar e se revirar. Entrega-se ao despertamento involuntário, deixa-se dominar pelos pensamentos, pelas ideias e pelos velhos sonhos engavetados. Enquanto tenta organizar toda essa bagunça interna, conscientiza-se de que o dia seguinte já iniciado será ainda mais cansativo que este ainda não encerrado. Pensa se não deveria mesmo ter tomado um chá.