Paixão: a descoberta
Eles não procuravam por Aquilo, mas encontraram. Agora, não podiam apenas fingir que não existia.
- É bonito - disse ele, puro fascínio.
- É tão - ela tentava, deslumbrada, a palavra certa - tão...
- Dá vontade tocar - concluiu ele.
E dava mesmo. Aquilo era pequeno, branco, uma bola sem bordas definidas, um pedacinho denso de nuvem pairando ali, bem ali, no ar, como se pedisse para ser envolto firmemente por uma ou duas mãos.
Ele, mais corajoso, deu um passo adiante.
- Espera!
Ela segurou o homem pela mão. Queria avisar sobre algo, mas não sabia bem o quê.
- O que foi?
- Não sei. Você acha que... Quer dizer, que isso é uma boa ideia? - a mulher hesitou.
Agora mais próximo, o homem sentiu que d'Aquilo emanava um calor suave e gostoso, sensação de entrar em casa quando lá fora é só frio e vento. Escutava-se ainda um zumbido baixinho, feito tensão elétrica ou algo que girasse para nunca mais parar.
- Sente isso? - pela mão, ele a puxou para mais perto também - Tá sentindo?
E ela sentiu o calor, também ouviu o zumbido. E de repente resistir era difícil.
Surgiu um silêncio cúmplice entre ambos, e as mãos, juntas, então foram na direção d'Aquilo.
Quando finalmente tocaram, o mundo explodiu. Uma massa morna e macia engoliu ambos, deixando-os em suspenso, inertes, sem chão, sem teto, sem lei, sem antes nem depois, sem peso. Peso algum. Nascidos de novo, no conforto d'Aquilo que, de repente, era tudo o que tinham e do que precisavam.
A sensação durou um tempo impreciso, poderia ter sido muito ou muito pouco, e sumiu gradativamente (chão, lei, peso, tempo, tudo voltando dolorosamente).
No desespero de tentar manter a sensação, ele ainda esticou inutilmente a mão rumo ao grande branco do entorno - e a sombra da própria mão seria a última coisa que veria.
A normalidade voltou como uma pedra; e não sem um preço.
- Eu... Eu não vejo nada! - ele gritou, cego e aterrorizado.
- Eu sei - ela disse arrependida -, eu sei.
A branquidão cega os cercava, e a dor, dividida ou multiplicada por dois, não tinha nada com o que se consolar.