Prisão Sem Muros
Às vésperas de seus 80 anos ela estava cansada da vida. Doente, julgava-se esquecida por Deus e pelo diabo, afinal, nenhum dos dois nunca a socorreu. Tinha um único prazer, ficar na varanda do sobrado contemplando o bairro onde nasceu. Via um amontoado de casas, erguidas com aquilo que ninguém mais queria. Novamente, como em todos os outros dias de sua vida ela se perguntou:
_ como será lá fora?
Lembrou-se de uma vez quando ainda criança tentou sair, depois de muito se cansar entendeu que o bairro não permitia fugas.
Graças a esta aventura infantil ela passou a acreditar que não havia mais nada fora dali. Um dia a televisão chegou e ela descobriu que estava errada, saiu como louca perguntando a toda vizinhança:
_onde era a escola, o hospital e o shopping?
_e o clube? onde ficava?
Nenhum dos vizinhos soube responder.