Fugaz 2017
31 de dezembro. 23h, 59min e 59 s. 2018 foi visitá-lo no hospital. À primeira impressão, viu um anjo branco de asas abertas estirado sobre a cama. Arrepiou-se com a fugacidade da imagem. Pousou sua mão quente sobre o peito frio do amigo. Comprovou deveras, que ele estava mais para o além do que para cá. Um segundo, se muito. As asas lhe serviu de amuleto e num estremecido esquisito, desapareceu de suas vistas. Aparentava desconte com a situação, é verdade, mas tinha que ir. Chamado é mais que chamado: imposição. E assim o fez...
Perplexo, 2018 perguntava para si, se é motivo de alegria ou tristeza a perda de um ente querido! Lembrando de fatos passado, os quais morreram quem morreram, correu para casa feliz da vida. Tanto ele quanto os outros amigos e familiares soltaram rojões, festejando a data. Show pirotécnico faiscando no céu estrelado. Fartaram-se de comida e bebida. Trocaram pequenos presentes em grandes caixas com laços de fita na entrega do "amigo secreto." Sabiamente, endividaram-se, comprometeram-se financeiramente os 364 dias anteriores somente para essa ocasião. Amanheceram arrotando o empachamento, com a cabeça dinamitada pela dor e consciência intranquila, retornaram ao hospital na vã tentativa de lembrar o que acontecera na noite anterior.
Faltavam médicos. Enfermeiras. Faxineiras. Anestesistas. Porteiros. Vazio absoluto. Espaço de sobra para as bactérias ululantes, vírus voadores e litros e mais litros de soro tombados. Pingos de sangue ressecados coloriam os pisos dos corredores. Certo mal cheiro no ar; porém, nada que fosse motivo de desvalorizar o momento de folia.
A amnésia e a ressaca aguda fez com quê esquecessem todos que a ocasião é ecumênica. Universalizada e se há diferença entre uma e outra, está no fuso horário. É a geografia interferindo diretamente na cultura e modo de vida do povo.
Ligaram para todas operadas aéreas, porém lamentavelmente, uma voz metálica e indiferente dizia que não havia mais avião disponível para a Terra do sol nascente. Voos lotados até início de fevereiro. Confortaram-se um ao outro com chás caseiros e proseados sobre casos iguais que acontecera no passado.