A mulher pescadora do homempeixe

Conheci Sívia num estágio que fiz em arqueologia, nos falamos pouco, ficamos amigos mesmo depois, encontrei com ela pescando no píer de iemanjá, nessa época ela não era vegana.

- Nunca imaginei que você pescasse?

Ela tirou o cigarro da boca e respondeu:

- Oi cara, pois é “ta nervoso vai pescar!” Conhece a frase?!

Eu ri, enquanto nos comprimentavamos com beijos no rosto:

- Ta muito nervosa?

- Ás vezes fico - A vara dela deu sinal que ferrou algum peixe, a linha endureceu, ela colocou o cigarro na boca e começou a enrolar. Olhei pro seu pescoço sua veia jugular dilatou. Paramos de falar e eu fiquei olhando a destreza dela em puxar o peixe, com uma mão segurava a vara e com a outra enrolava o molinete.

- Acho que é um pampo, ein! Vem menino bonito- Ela disse com o cigarro no canto da boca, enquanto puxava a linha, usava as duas mãos com segurança e calma. Sua respiração ora acelerava ora relaxava. O bicho oferecia resistência e ela parava um pouco, ora puxava mais, o peixe sacudia, ela parava de puxar o menino- Como ela chamou o peixe.

- Vem Menino, serei boazinha com você- Ele fazia força, a jugular dilatou ainda mais, ela dava linha, ele parava, ela puxava, uma batalha. Quando começava um novo puxão fazia uma força extra e emitia um granido tipo “ham” que parecia acentuar sua força. Fiquei de voyeur na cena: a mulher querendo pegar o peixe e este lutando pela vida.

- Acho que é um pampo mesmo. Valente- Ela disse com ela mesma. Estava como os olhos pretos focados, me ignorava, até sua face havia mudado, seu rosto estava mais inchado e vermelho e falava com o peixe enquanto puxava a linha.

- Ham. Vem com a mamãe lindinho, vem.- O cigarro no canto de sua boca se agitava de lado enquanto ela falava. Os pelos clareados dos seus braços eriçaram. Acho que ela nem me enxergava ali, olhei para suas pernas finas, ela depilava até a altura do joelho, estava com um short curto vermelho, que permitia ver parte de suas coxas cobertas por uma penugem fina e loira, também eriçada.

O peixe puxou com força, Sívia separou os pés, flexionou os joelhos e segurou um pouco. Fechou os olhos, contraiu o corpo, prendeu o ar, mas logo relaxou, dando uma expirada longa e soltando a linha, ela emitiu um hammm, o cigarro caiu no chão, sua boca ficou relaxadamente aberta:

- Calma, neném, você tinha a opção de não morder a isca, agora assuma seus atos- Ele veio para superfície, tinha o dorso brilhante e nadava para dentro do mar, de repente pulou tirando todo corpo fora da água, deu para ver o amarelo da sua barriga. Percebi o quanto era grande.

- Isso, vai lindo, pula vai! Estamos mais próximos- Ela falou com ele ainda no alto. E expirou lentamente, quando o peixe desceu, jogou águas para os lados.

- É um pampo, e dos grandes! Vai cumprir seu destino.

Acho que ele gastou suas últimas forças nessa tentativa de fuga, Sívia novamente começou a puxar a linha. Sua respiração voltou a ficar acelerada, agora pela boca.

- Calma baby, serei gentil com você.

Ela flexionou ainda mais os joelhos separados, firmou os pés no chão e foi puxando a linha com calma e força emitindo ham´s mais baixos, suas pernas eram musculosas, eu enxergava suas veias, seus olhos brilhavam ainda mais, o peixe puxava menos agora.

- É um guerreiro esse menino- Ela disse com peixe perto do píer. Deu uma última puxada firme seguido um hamm, maior que todos. Segurou a vara e a linha junto, travando a linha, abaixou e pegou um grande puçá oval com uma rede branca, nessa hora senti o cheiro de sua transpiração:

- Camom Baby blue- Quando peixe estava bem próximo do píer ela novamente travou a linha, com o puçá enredou ele, tirando fora da água. Usando toda sua força.

A mulher havia aprendido a pescar com um professor mais velho, me contou depois, e era muito boa nisso. Com o “ menino” já fora da água, em cima do quebra mar de cimento, ela olhou para ele bem nos olhos. Deu uma suspirada lenta e se espreguiçava, alongando os braços para cima como se acordasse aquela hora, em seguida sacudiu a cabeça e sorriu olhando para o peixe:

- Grande mesmo, belo e digno, lutou com vontade pela vida. Merece uma morte digna. Gratidão.

- Agora vai virar moqueca!- Eu disse, sem querer, mais por capixabisse, pois como filho de pescador, sabia que pampo era melhor assado. Ela continuava me ignorando, passou o dedo indicador pelo corpo do animal, depois tirou o anzol da boca dele, só as guelras se mexiam, abrindo e fechando no movimento da respiração.

- Eu sei como é quase morrer, segure o máximo que puder!- Ela pegou um pouco de água com a mão e jogou em cima do peixe. Depois o levantou no ar com segurando nas extremidades, ele permanecia imóvel. “ Será que o peixe entende o que ela fala?” Me ocorreu.

- É um peixe nobre e forte, provou da morte! Tem merecimento.

Eu fiquei imaginando o assado com alcaparras, numa folha de bananeira.

De repente, a mulher colocou o peixe de volta na água.

O tempo parou para mim, inspirei fundo o cheiro de Sívia e do peixe juntos, acho que me apaixonei nessa hora. Ela ficou olhando e rápido o peixe sumiu no mar, não haviam mais pescadores no píer senão ficariam loucos com a atitude na menina, o cristal da minha cabeça foi ativado e depois disso eu que praticava caça submarina nunca mais consegui matar peixes direito.

Ela ficou observando o peixe ir embora, até sair do transe.

Depois me olhou, seus olhos estavam diferentes.

- Você deve me achar louca! Eu pesco porque preciso- Disse, me olhando nos olhos, estava próxima de mim, sem eu perceber minha mão foi por trás da cabeça dela puxei e nos beijamos, ela aceitou mas logo se afastou um pouco.

- Que nonsense!- Ela disse.

- Po, não sei...- Não sabia oque falar, Ela logo me interrompeu e continuou me beijando.

kambo
Enviado por kambo em 14/09/2017
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