A Gaiola
Vivia acorrentado, a seus olhos o mundo, um grande mistério tão perto e tão longe, era listrado. Lá fora seus irmãos brincavam com o vento, aqueciam-se ao sol ou brincavam na chuva. Ali só lhe restava baixar a cabeça e cantar melodias de tristeza, dessas que os poetas criam em exílio.
Mas o mesmo vento que reinava lá fora deu seu golpe, a jaula surpreendida foi ao chão. A porta escancarada convidava ao desafio, gritos próximos alertavam do perigo. Era preciso uma decisão e, enfim, ele foi juntar-se a seus irmãos.
E sentiu o vento nas penas, o sol em seu dorso, a chuva em seu corpo. E seu corpinho pesado, seus músculos despreparados e suas penas enfraquecidas não suportaram a subida explosão de vida. Aquele foi seu último voo, caiu ao chão, morto, porém livre.