A Travessia
Já na primeira semana no vapor abarrotado, a apreensão tomou conta de Luciano e Carlotta. Ia ficando evidente que Paolo não resistiria à travessia. Disenteria e vômito constantes desidratavam a criança, que minguava. Tentavam hidratá-lo, e aquela água insalubre fazia-o piorar. Em poucos dias, nem para chorar tinha força, o que sobrava em seus pais. Choravam muito, diante da indiferença dos outros viajantes, que tinham seus próprios motivos para o pranto. Quando entregaram o corpo ao capitão, para o lançamento ao mar, Luciano disse-lhe ao ouvido:
“- Addio, figliolo. Trova nonna Agostina. e con essa ci aspettiamo. Quando Gesù desidera, saremo di nuovo tutti insieme.
- Adeus, filhinho. Encontre vovó Agostina, e com ela espere por nós. Quando Jesus quiser, estaremos todos juntos novamente.
Carlotta muda, dilacerada pela maior dor que um ser humano pode sentir.
E quase mudos os dois, a duras penas, concluíram a travessia, que lhes pareceu ter durado uma vida inteira.
Fracos e emagrecidos, parecendo anos mais velhos, chegaram ao porto de Santos, e aos santos pediram proteção para a vida que começavam.