A PALAVRA
Mãos trêmulas, lágrimas nos olhos, mal via o que estava fazendo. Pensava se a atitude que havia tomado fora a mais correta. Dúvidas persistentes não lhe davam paz, martelando seu pobre cérebro cansado das labutas do dia.
A vida não é fácil para ninguém, mas sempre há os que não se preocupam em saber se o que fizeram era certo ou errado. Não lhe ficam dúvidas morais, éticas, sentimentais. Seguem seu caminho sem olhar para trás. Ela, não. Preocupara-se sempre em não prejudicar, não ferir, não magoar. E saíra invariavelmente prejudicada, ferida, magoada.
Lutara muito. Aguentara o que fora possível e, às vezes, até o impossível. Perdoara setenta vezes sete vezes, conforme lhe fora ensinado. Suportara a falsidade, a traição, a rispidez, a brutalidade. Com lágrimas nos olhos e dor no coração, mas com um sorriso acolhedor nos lábios, aceitara os pedidos de desculpas e se prontificara a recomeçar. Pensara nas crianças, coitadinhas, e no que haveriam de sofrer. Pensara na decepção que causari aos pais, na preocupação deles com o que seria dela dali por diante.
Mas, enfim, dera um basta. Chegara ao limite de suas forças. Tivera que armar-se de coragem e, a duras penas, o conseguira. Nem um dia mais toleraria maus tratos, desrespeito, palavras ásperas, censuras. Não seria mais enganada. Sobretudo, não aceitaria nem um minuto a mais de indiferença. Ponto final. Partiria.
Contudo, mesmo ao arrumar suas coisas, ainda pensava se poderia ter feito diferente. Se a culpa não seria sua, realmente. Analisava onde e quando havia errado. Haveria algo que pudesse ter feito de outro modo, para ser outro o final?
Não fora aquele último insulto gritado lá de baixo e teria desfeito a mala, sufocado a dor e o orgulho, engolido as lágrimas, pronta a, mais uma vez, tentar recomeçar. Uma palavra teria bastado...