O OLHO DE VIDRO

Madrugada chuvosa e fria de agosto. É uma noite para estar na cama, cerrar as cortinas e fechar as janelas. É uma noite capaz de amedrontar o coração com o rugido rouco da trovoada. Pedimos uma última rodada, antes que o bar fechasse.

- E então - eu concluo - Mariana cometeu um crime contra a própria irmã porque estava com ciúmes de vocês dois?

- Foi isso que aconteceu.

- Meu Deus! Que desgraça!

- Desgraça é a palavra certa. Bem que ela poderia ter assassinado minha futura esposa após o casamento. Pelo menos, uma semana depois.

- E qual seria a diferença?

- A diferença? Faria toda a diferença do mundo! Você não entende? Eu teria herdado todos os bens dela. Amor é bom, mas no mundo real, amor não enche barriga, não paga as contas, nem compra roupas quentes no inverno. Agora, uma boa conta bancária...

- E onde entra o olho de vidro nessa estória? - pergunto.

- Que olho?

- Esse embaixo da sua testa, do lado direito.

- Oh... sim. Que coisa! - ele então retirou o olho artificial da órbita e ficou segurando-o. Nesse momento um trovão rugiu e iluminou a pupila marrom e fria. - Era sobre isso que eu ia lhe contar, não é? Mas, quando desembesto a falar não paro mais... Você quer saber do meu olho de vidro? Bem, esse é um caso realmente assombroso. Vou te contar sobre esse olho - um caso realmente AS-SOM-BRO-SO!...

Celso Pesan
Enviado por Celso Pesan em 27/10/2012
Reeditado em 29/10/2012
Código do texto: T3955273
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.