Trekking

- Anda sô. Se parar você vai esfriar, ai é que desanima mesmo. Anda, vamos embora. Ajeita a mochila ai nas suas costas e vamos. – Ajeitou a própria mochila que já lhe doía também. – Vamos embora então. Assim que a gente chegar no rio a gente para e descansa um pouco. Que ai é um lugar melhor. Vamos então?

- Vamos. – Criou coragem, firmou melhor a mochila e seguiu morro acima por entre o mato e o cipó emaranhado nas pequenas árvores. Tomava cuidado especial para não torcer o pé. O terreno estava muito acidentado. Mesmo com a bota de cano alto, que firmava bem o tornozelo, ainda existia risco de uma pisada em falso. Ai já era. Se torcesse o joelho então, ai que já era mesmo. Estavam em dois. Não deveriam ter ido só os dois. Toda regra básica de qualquer esporte em que se vai para áreas inabitadas diz, pelo menos três. Se um machucar, um fica cuidando do machucado e o terceiro busca ajuda. Regra básica. Mas estavam sós em dois. Não conseguiria ser carregado. Então, cuidado total para não torcer o pé, ou o joelho. Pela primeira vez se arrependeu. Não por cansaço. O cansaço fazia parte. Mas por medo, de torcer o joelho, ou o tornozelo.

Uma pedra. Como subir? Avaliaram o melhor caminho, se era contornar pelo mato ou subir pela pedra mesmo. Opção de subir pela pedra. Cuidado para ver onde põem a mão. Machucar a mão não é tanto problema. Claro, tem o tétano. Mas não é tanto problema. Dá tempo de chegar em casa. O problema é escorpião, ou cobra. Aranha e lacraia também. Mas menos. Uma vez estavam andando em outro mato. Dessa vez estavam em três, como manda a prudência. Cobras e escorpiões, os mais perigosos, mas só olhar onde pisa e onde põem a mão. Nada de cobras grandes, nem de onças, ou mesmo cachorros e bois. Não entravam naquele mato. Então o perigo se mostrou na copa das árvores. Uma gigantesca colméia de abelhas. Do tamanho de uma geladeira. O chão salpicado de abelhas velhas e mortas foi o que os alertou. Silêncio total. Desviaram do curso do riacho, de onde iam por entre as pedras, voltaram um pouco e contornaram por dentro do mato espesso, cheio de pequenas árvores onde se emaranhavam cipós quase da mesma grossura das árvores, difíceis de passar, principalmente com as mochilas. Bem devagar. Silencia total. Acharam uma orquídea no desvio. Estava fechada ainda, mas o bulbo grande prometia, ou uma enorme flor, ou uma penca de flores. Levaram-na, mas depois de meses só saiu uma flor pequena, roxa e amarela, sem nada de especial além da lembrança daquele momento.

Sanyo
Enviado por Sanyo em 02/06/2012
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