A ostentação do doutor Fonseca
O doutor Marlon da Fonseca adentrou à sala de audiências pedindo declaração comprovando o comparecimento de uma de suas testemunhas da oitiva que tinha sido realizada em outra sala de audiências, no mesmo prédio do Fórum da Capital/SP.
-Preciso da declaração - disse ao escrevente (cara estranho, meio travadão para falar)
-O senhor vai colocar a bermuda para ir ao clube? (Disse o outro advogado, da parte contrária, que o acompanhava)
-Não. Só vou dar uma checada no meu apartamento no Jardins, depois vou embora.
-O senhor me passa o RG da testemunha? – disse o escrevente (pra quê falar da localização do apartamento? Que cara metido. Agora entendi o porquê o achei estranho).
O advogado entregou o RG do cliente, meio desconcertado.
-Ok, - disse o escrevente (Olha, todo atrapalhado. Também fica falando de suas posses desnecessariamente. Aff)
Preenchia a declaração enquanto o advogado procurava, em vão emendar alguns assuntos com todos, olhando a todos em volta, sem sucesso.
-Até logo – ele disse, saindo, quase derrubando a porta.
-Até – boa viagem de retorno – Disse o outro advogado.
O escrevente permaneceu em silêncio.
Depois ele me contou que respirava fundo pensando na prepotência daquele homem.
Eu me recolhi ao meu pensamento. Realmente meu colega de trabalho estava certo. Realmente as pessoas não precisavam ficar alardeando suas posses. Isso, infelizmente, as atrapalhavam em relação à socialização. Lembrei-me até de uma passagem de Provébios que diz: “O homem sábio não alardeia seus conhecimentos, mas o coração dos sem juízo é como fonte a jorrar insensatez!” . Ele não era nenhum funkeiro ou qualquer ricaço desses que se aproveitam da moda para fazer sucesso e ganhar dinheiro, exibindo suas ostentações, mas havia, ao menos por um momento, se tornado igual a eles. Uma vanglória. Sim. Momento de ostentação. Como lhe foi prejudicial. Será que ele percebeu tudo isso? Acho que não.