SANGRIA

Sentado no sofá, ficou paralisado por quase meia hora. Tinha os olhos fixos na gaveta da velha escrivaninha postada no canto da sala. Um silêncio quase absoluto dominava aquele ambiente, só quebrado pelo sutil tic tac do velho relógio na parede. Estremeceu, ao ouvir a primeira das doze badaladas do relógio, mas logo voltou à posição mumificada que se encontrava. O silêncio novamente fez-se senhor. Levantou-se lentamente mantendo os olhos vidrados na gaveta e seguiu em sua direção a passos lentos, e cada passo parecia duvidar do próximo, como a querer retroagir.

Postou-se em pé em frente ao móvel alvo e ficou assim fitando a gaveta ainda por um tempo impreciso; até finalmente, sua mão lentamente começar a abri-la. Respirou fundo e pegou o objeto no interior da gaveta, levou-o lentamente até a boca e por fim, beijou a velha foto, antes de cair num pranto convulsivo.

Chico Alves dMaria
Enviado por Chico Alves dMaria em 30/01/2018
Reeditado em 30/01/2018
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