Suzete e a nudez dos meninos
Eram Onésimo e Celinho de um lado, eu e Beu do outro. Uma tela das fininhas a nos separar, e menos de trinta anos somados, a nos unirem. Costumávamos passar tardes a trocar idéias e a propor soluções para quando o mundo acabasse, enquanto, agachados, lambíamos u'a mãozada de açúcar - na falta duma mais apetitiva iguaria.
Mas foi tudo diferente naquele dia, em que JK - talvez sem açúcar e sem tela - ainda tinha Brasília só na cachola. E pra ele, quem de nós que dava bola? A diferença veio pela boca de Onésimo: tinham aprendido a nadar e se a gente quisesse ver, tavam prontos pra nos mostrar. Como se podia um convite daqueles se recusar?
E lá fomos, bordejando a cerca, os quatro, quintal abaixo. Achar um buraco na cerca dos fundos não foi problema, desde que se arrastasse como os cães vadios faziam. E com mais uma caminhadazinha em meio ao matagal
nada denso já nos deparávamos com o reguinho, que se convertia em campo de prova: logo, logo, Onésimo e Celinho, sem a menor cerimônia
desfizeram-se de sua indumentária e se projetaram na água, de bunda pra cima, e mãos apoiadas no leito do regato. Beu e eu, embora convidados pelos intrépidos vizinhos resistimos à tentação das águas - e da nudez.
Suzete foi que viu tudo. Excitadíssima. Mas na sua mudez, abanar o rabinho foi o que fez. Depois, fidelíssima, acompanhou de volta aqueles meninos da Lia, donos da estripulia.