'' TROÇA ''

Marcondes, o seu Marcondes, desde menino era trocista.

Quando estava nos seus doze, treze anos cismou de tirar troça com

a velha Zabé, negra velha que morava em um casebre no terreno

abandonado do velho galpão da fábrica de bebidas.

Troçava que troçava com a pobre coitada.

Pregava peças, dava sustos, fosse de dia, fosse de noite a velha

vivia apavorada, até bombinhas no rabo do cachorro vira-lata ele

colocava, o coitado saía em disparada e sumia por uns dias.

A velha negra Zabé se entristecia, o vira-lata era seu xodó.

Um dia quando Marcondes já estava com mais de dezoito ele veio

dirigindo seu carro novo, o cachorro agora já velho, de ódio ou se

sabe lá o que saiu feito louco atras dos pneus, não deu, morreu.

Zabé rezou, pediu forças pras alturas e jurou de pé junto...

Eu vô morrê, oce Marcondes vai ficá no meu lugâ, assim qui ieu

meus zóios fechá oce veim prá cá no meu lugâ.

Dito e feito. Zabé morreu e Marcondes agora era rico, dim dim de

montão, comprou o terreno e no futuro iria erguer um condominio.

O tempo passou, Marcondes perdeu tudo, o banco tomou, ele não

tinha onde morar, foi morar no casebre no terreno, envelhecia dia a

dia e a molecada na troça agora.

Marcondes sofria, não dormia e nas altas madrugadas parecia que

ele ouvia risadas altas dadas com um bôca desdentada, risada

de troça, risada trocista....qua qua qua....qua qua qua.

Um dia a molecada sentiu um fedor horrivel e curiosos foram ver

o que era, da janela viram Marcondes na cama estendido e ao lado

dele uma preta velha parada olhando..olhando e rindo...rindo e um

cachorro uivando...uivando...risos de troças, uivos de troça.

Para quem não acredita...existe sim as ''alturas'' e ela existe para

os cá de baixo ajudar, quando precisam e quando merecem.

Zabé precisava, Zabé merecia.

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WILLIAM ROBERTO CUNHA
Enviado por WILLIAM ROBERTO CUNHA em 04/03/2014
Código do texto: T4715343
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