DA CONSTRUÇÃO POÉTICA
Minha poesia é um tiro
querendo criar vínculo,
emerge da cinza hipnótica
e presa junto à pólvora
floresce no rastro do morticínio.
Minha poesia abre ribeiras nos ossos
que submerge descontínuo
abismo de rente vala
no qual nada na poça
o sentido que se afoga.
Minha poesia é código aberto na fonte
de um torto corpo anedótico
que subscreve nas veias
as raízes do caótico
em um sistema ocluído.
Minha poesia é o assassinato do cupido
que se alvora na carne morta
e se flecha do seu olvido
depenando as asas torças
do amor que se oblitera.
Minha poesia é casca revolvendo a terra
à procura do fugaz latíbulo
que ao averno desce
através da cratera aberta
homiziando o paraíso eterno.
Minha poesia é avessa a descoberta,
deixa aberta a conjuntura,
preza à risca a ruptura
desconstruindo a estrutura
na ramagem esquelética.
Minha poesia é assim desértica
onde a miragem rigorosamente erra
e anda descalço o poeta
com seus versos na ampulheta
que vira e mexe o tempo seca.
Diego Duarte dos Santos