DA CONSTRUÇÃO POÉTICA

Minha poesia é um tiro

querendo criar vínculo,

emerge da cinza hipnótica

e presa junto à pólvora

floresce no rastro do morticínio.

Minha poesia abre ribeiras nos ossos

que submerge descontínuo

abismo de rente vala

no qual nada na poça

o sentido que se afoga.

Minha poesia é código aberto na fonte

de um torto corpo anedótico

que subscreve nas veias

as raízes do caótico

em um sistema ocluído.

Minha poesia é o assassinato do cupido

que se alvora na carne morta

e se flecha do seu olvido

depenando as asas torças

do amor que se oblitera.

Minha poesia é casca revolvendo a terra

à procura do fugaz latíbulo

que ao averno desce

através da cratera aberta

homiziando o paraíso eterno.

Minha poesia é avessa a descoberta,

deixa aberta a conjuntura,

preza à risca a ruptura

desconstruindo a estrutura

na ramagem esquelética.

Minha poesia é assim desértica

onde a miragem rigorosamente erra

e anda descalço o poeta

com seus versos na ampulheta

que vira e mexe o tempo seca.

Diego Duarte dos Santos

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 19/05/2022
Reeditado em 19/05/2022
Código do texto: T7519185
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