Epitáfio

Percebo a vida ao acordar

Alguns ruídos de quem vem cedo

Os pássaros

Testo os dedos que se mexem quando ordeno

Olho o quarto, que acordou antes de mim

O que faço hoje?

Até quando vou estar aqui?

Remonto a lógica da minha vida,

E reafirmo a mim um propósito:

O trabalho, as crianças, minha mãe..

Mas enfim, quem seriam todos

se eu não estivesse aqui?

Se levanto, vou lutar contra o meu carrasco

Se fico, navego cego no mar revolto

Sou um pensamento

Esse pensado agora, nem mais nem menos

Amanhã estarei morto.

Abrirá, quem sabe, os olhos,

alguém que pensará ser eu

E esse feixe de luz que vejo agora,

em pautas pela parede branca

Lhe trará minha ilusão doada

De estar vivendo mais um dia.

Conheço a sensação da morte

Porque ela vem quando eu sinto o vivo:

Uma despedida

Uma dor que não passa

Um blues,

o gosto do sangue na boca.

Escrevi pra te contar que te esperava

Sabia que lerias a mim,

e pensarias serem teus os versos

Não te apresses,

Reconheça-te, desperta

Hoje és um poeta