Transmutação
Outrora eu era um camelo;
Sobre mim, labores;
Cargas que, cria, suportar.
Era forte, porém fraco.
Sobre meus olhos, como animal,
Situavam-se vendas;
Estas que me inibiam
Me afastava da realidade.
Um dia, meu coração rugiu
E em mim nasceu um leão!
Destruí as vendas
Que faziam-me pouco ver.
Descativado foi o meu espírito
E, agora, aberto foram os meus olhos;
Libertei-me de minha própria caverna
Para longe das sombras.
Agora, não mais reflexos!
Mas, sim, a realidade!
Minha face logo ao sol contemplou!
Contudo não suportei a sua luz!
Todavia, sim, sob as águas eu vi!
Vi o reflexo do sol!
Grande foi a minha dor!
Grande foi, também, meu prazer!
Agora, digo sim!
Agora, canto amém!
Agora, canto glória!
Agora, minha alma dança!
Destruí minhas correntes
E assim tenho feito
Para com meus semelhantes
Em favor da vida!
Não toques, por que não?
Não olhes, por que não?
Não faças, por que não?
Não viva, por que não?
Eu digo: sim!
Toda moralidade fraca deve perecer
Normas humanas, niilistas
Digo amém à vida, e não a elas!
Transmutei-me...
Tornei-me inocência, esquecimento;
Tornei-me criador e jogador;
Agora, sou criança!
Aprendi a espantar-me;
Por conseguinte, aprendi a filosofar!
Aprendi a maravilhar-me
A indagar-me!
Vivo para questionar
Ou questiono para viver?
Vivo para sonhar
Ou sonho para viver?
Vivo para sofrer
Ou sofro para viver?
Vivo para alegrar-me
Para desejar-me!
Aletradei a solidão
E dela jamais desapegar-me-ei!
Pois, aqui, entendo quem sou...
Ou não.