AUTÓGRAFO
AUTÓGRAFO
A Fernando Pessoa
Como poeta, finjo
Mas finjo tão bem,
Que além de enganar
Também creio nisso.
Como pai, compartilho.
Mas finjo, também,
Sem mentir ou enganar
Afinal, filho é filho.
Como professor, atuo
E finjo muito bem,
Não pra disfarçar,
Só pra quebrar o gelo.
Como amante peco
E finjo muito e bem,
Mas não dissimulo,
No amor, isso não convém.
Como homem, represento.
Se finjo mal, se finjo bem,
Quem sou eu pra dizê-lo,
Melhor ouvir de alguém.
Como viver é fingir
E fingir é quase um bem,
Melhor fingir pra viver
Do que viver pra fingir.
Como vivo, finjo,
Finjo e vivo bem.
Algo melhor que isso?
Finjo, logo existo.
Tarcísio Rocha