AUTÓGRAFO

AUTÓGRAFO

A Fernando Pessoa

Como poeta, finjo

Mas finjo tão bem,

Que além de enganar

Também creio nisso.

Como pai, compartilho.

Mas finjo, também,

Sem mentir ou enganar

Afinal, filho é filho.

Como professor, atuo

E finjo muito bem,

Não pra disfarçar,

Só pra quebrar o gelo.

Como amante peco

E finjo muito e bem,

Mas não dissimulo,

No amor, isso não convém.

Como homem, represento.

Se finjo mal, se finjo bem,

Quem sou eu pra dizê-lo,

Melhor ouvir de alguém.

Como viver é fingir

E fingir é quase um bem,

Melhor fingir pra viver

Do que viver pra fingir.

Como vivo, finjo,

Finjo e vivo bem.

Algo melhor que isso?

Finjo, logo existo.

Tarcísio Rocha

Tarcisio Rocha
Enviado por Tarcisio Rocha em 12/11/2016
Código do texto: T5821316
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