Littera Lua
Todo dia, quando a noite pula
os muros de meus versos loucos,
a Lua vem me lamber poemas
que lhe agradam a gula
a degustar-me um pouco.
Mal sabe ela, Lua donzela,
que, ao me lamber em poesia,
também lambo dela no final do dia
o que se revela de sua escritura.
Mas tantos contextos se lambem nela,
minguantes, crescentes, inacabados,
do drama efêmero em tragédia comédia
aos longos gêneros que a prosa procura,
que nessa troca de textos repleta
onde escrevemos a vida dura
nós dois nos tornamos a mais completa
incompleta obra de Literatura.