01- Intolerância

01- A Guerra dos Humanos

(agosto de 2020)

Observamos em nossos dias o fenômeno da intolerância amplamente disseminado.

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O desenvolvimento tecnológico e o aumento da população mundial provocaram um incremento nunca visto nas comunicações. Nunca na história da humanidade conversamos tanto, sobre tantos assuntos. Nunca foi tão fácil emitir uma opinião. Isso é ótimo, mas todos esses fatores fazem vir à tona imaturidades que sempre tivemos, mas que eram menos visíveis antes destes tempos.

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Esse texto tem como objetivo refletir sobre a onda de intolerância e preconceito que presenciamos atualmente e que fica mais visível nos meios de comunicação social existentes.

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A intolerância fica à mostra no campo político, no qual a direita considera os esquerdistas como inimigos a serem eliminados, e a esquerda considera quem é de direita, como pessoas ignorantes e atrasadas em termos culturais e, até mesmo, espirituais.

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No campo religioso é bastante conhecida a pretensão dos evangélicos em se apresentarem como a única religião verdadeira. De acordo com esta visão, todas as outras religiões seriam mentiras e criação de Satanás. Desta forma a Nossa Senhora dos católicos é de Satanás, os espíritos superiores do espiritismo são de Satanás, os pretos velhos da umbanda são de Satanás, o zen dos budistas é de Satanás, o tao do taoismo é de Satanás, Alah dos muçulmanos é de Satanás, Meishu Sama da Igreja Messiânica é de Satanás, o Eterno dos judeus é de Satanás, os Orixás do candomblé são de Satanás, o Brahma dos Hindus é de Satanás.

Nos outros caminhos espirituais citados, embora camuflada, podemos encontrar a mesma intolerância também, na medida em que seus seguidores se acham na posse de uma revelação que, de alguma forma, é superior as outras. “Eu respeito todas as religiões mas, um dia, toda a humanidade se renderá a minha religião.”. Esse é o mantra geral.

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No campo das nações, da mesma forma, a divisão impera. Uniões, importantíssimas para a manutenção do progresso e da paz entre as nações, estão sendo desfeitas, como a união dos países europeus, a união dos países da América do Sul, a união dos países da América do Norte, dentre outras.

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A intolerância contra o estrangeiro é algo significativo e crescente. Todos que são diferentes passam a ser inimigos.

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O mundo está dividido entre os seres da luz e os das trevas. Claro, a luz está comigo e quem pensa diferente é das trevas.

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Entendo que nessa visão de dualidade dificilmente conseguiremos superar nossos problemas. Essa dualidade existe num certo nível de amadurecimento. Ela não tem nada de satânico, apenas é infantil. Nesse nível de infantilidade vemos a vida como uma luta do bem contra o mal e, claro, nos colocamos do “lado” do bem. Todos os “outros” estão do lado do mal e precisam ser convertidos ou jogados no inferno. Assim não haverá futuro para a humanidade do planeta Terra. Vamos nos destruir mutuamente.

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Deus não virá para salvar os bons simplesmente porque não existem bons nessa guerra.

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O caminho é a desconstrução dessa visão dualista da vida. Deus criou tudo, então em tudo há sempre algo de bom a ser aprendido. O outro é diferente exatamente porque eu tenho muito a aprender com ele. A diferença é sagrada. O processo é de aprendizado e não de conquista. Deus é amor incondicional e esse é o grande aprendizado. Amar incondicionalmente. Nessa visão, a intolerância não faz sentido. Neste nível há um caminho de convivência pacífica e aprendizado mútuo.

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Para alcançar esse grau de maturidade, a meu ver, precisamos olhar para dentro de nós mesmos e buscar a conexão com o Self, a centelha Divina, o Zen, o Tao, o Eterno, O Sem Nome, o Espírito Santo. É por conta do afastamento de Deus que instalamos a guerra em nossas vidas. Essa guerra só tem um vencedor possível: o Amor de Deus, que está dentro de cada um de nós. É o afastamento desse amor que nos afasta do próximo. A guerra externa é consequência natural da imaturidade interna. Sem conexão interna com o Deus de todas as religiões não há caminho viável. É essa conexão que nos une e torna possível a convivência entre os diferentes.

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Citando o Mestre: Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.