Os Dias Áureos do Reinado de Davi
A vida de Davi pode ser dividida em dois períodos distintos, a saber: antes e depois de ter pecado com Bate-Seba.
Antes de ter cometido aquela transgressão nós o vemos ainda com aquilo que se pode chamar de vida abençoada por Deus em todos os sentidos.
Vitórias práticas tanto nos assuntos familiares, quanto nos relativos ao reino.
Não ouvimos falar sobre nenhuma desavença séria em família, e de nenhuma dificuldade que ameaçasse seriamente o reino, que não fosse dissolvida com o auxílio do Senhor.
Assim, o que vemos no décimo capítulo de 2 Samuel, que estaremos comentando, ainda faz parte do que podemos chamar do período em que Davi não teve a própria mão do Senhor agindo contra ele, em qualquer sentido.
Tal era a prosperidade que o Senhor lhe dera por amor do seu povo de Israel, que ele se dispôs até mesmo a consolar Hanum, novo rei dos amonitas, da morte de seu pai Naás, que no passado havia abrigado a família de Davi, quando ele fugia de Saul.
Foi por causa do rei do amonitas, ter-lhe dado boa acolhida no passado, que Davi enviou uma embaixada para consolar Hanum, ao mesmo tempo que prestava a honra que considerava devida a Naás, seu pai.
Entretanto, aquela bondade foi mal interpretada, como sendo um ato de espionagem, e como os amonitas pensavam que Davi desejava entrar em guerra contra eles, então se adiantaram em lhe dar motivo para isto, fazendo um declaração de guerra informal, desonrando a embaixada que lhes fora enviada, raspando as barbas e rasgando as vestes daqueles homens pela metade (v.4).
Deus permitiu que o bem de Davi fosse interpretado como mal, para trazer um bem e glória ainda maiores ao Seu povo, e ao reino de Israel, uma vez que as nações que estavam aliançadas aos sírios, e que os serviam, lhes abandonaram depois de terem os sírios sido derrotados por Davi, e elas passaram para o lado de Israel (v. 19).
Entretanto, isto não foi conseguido sem que antes houvesse grande luta, em batalhas sucessivas.
E temos por conseguinte uma grande ilustração das batalhas sucessivas que os cristãos empreendem contra os poderes das trevas, quando pretendem fazer o bem, e saindo-se vencedores nelas, não somente terão a sua própria paz, bem e glória aumentados, como receberão honra daqueles que libertaram das garras do Inimigo, a saber, aqueles que se convertem debaixo da pregação, oração e testemunho deles.
Os amonitas fizeram tal agravo a Davi porque estavam aliançados com os sírios e com outras nações, que eram antigos inimigos de Israel.
Eles assumiram os gastos daquela guerra pagando o soldo do exército de 20.000 homens dos sírios, 1.000 do rei de Maaca, e 12.000 de Tobe, totalizando 33.000 homens.
Estes atacariam Israel por um lado do campo de batalha, e os amonitas, por outro.
Por isso Joabe dividiu o exército de Israel em dois grandes grupamentos, tendo ficado à cabeça de um deles e colocando a Abisai, seu irmão, como líder do outro grupamento (v. 8 a 11).
E como Joabe prevaleceu sobre os sírios e sobre as forças que estavam coligadas a eles, bateram em retirada, e vendo isto, os amonitas também fugiram da luta contra as tropas que estavam sob o comando de Abisai, irmão de Joabe (v. 13,14).
Os sírios resolveram retornar ao campo de batalha por sua própria iniciativa, empregando agora uma força bélica maior, mas o próprio Davi subiu a pelejar contra eles com todo o exército de Israel, e foram mortos dentre os sírios, os homens de 700 carros e 40.000 cavaleiros, bem como o seu general chamado Soboque (v.18).
Tal foi a derrota imposta pelos Senhor a eles que não ousaram por um bom tempo ameaçarem a paz de Israel.
E foi no descanso da guerra que Davi entraria na pior derrota de sua vida.
Foi quando estava confiando na força do seu próprio reino que Satanás pôde enfim derrotá-lo, não pelas mãos de um grande e poderoso exército inimigo, mas usando os encantos de uma mulher casada, como veremos no capítulo seguinte.
As batalhas espirituais são empreendidas em várias frentes e de variadas formas e por isso nos é ordenado vigiar e orar em todo o tempo, para não cairmos nas tentações e astutas ciladas do diabo.
“1 Depois disto morreu o rei dos amonitas, e seu filho Hanum reinou em seu lugar.
2 Então disse Davi: usarei de benevolência para com Hanum, filho de Naás, como seu pai usou de benevolência para comigo. Davi, pois, enviou os seus servos para o consolar acerca de seu pai; e foram os servos de Davi à terra dos amonitas.
3 Então disseram os príncipes dos amonitas a seu senhor, Hanum: Pensas, porventura, que foi para honrar teu pai que Davi te enviou consoladores? Não te enviou antes os seus servos para reconhecerem esta cidade e para a espiarem, a fim de transtorná-la?
4 Pelo que Hanum tomou os servos de Davi, rapou-lhes metade da barba, cortou-lhes metade dos vestidos, até as nádegas, e os despediu.
5 Quando isso foi dito a Davi, enviou ele mensageiros a encontrá-los, porque aqueles homens estavam sobremaneira envergonhados; e mandou dizer-lhes: Deixai-vos estar em Jericó, até que vos torne a crescer a barba, e então voltai.
6 Vendo, pois, os amonitas que se haviam feito abomináveis para com Davi, enviaram e alugaram dos sírios de Bete-Reobe e dos sírios de Bete-Reobe e dos sírios de Sobá vinte mil homens de infantaria, e do rei de Maacá mil homens, e dos homens de Tobe doze mil.
7 O que ouvindo Davi, enviou contra eles a Joabe com todo o exército dos valentes.
8 E saíram os amonitas, e ordenaram a batalha a entrada da porta; mas os sírios de Zobá e de Reobe, e os homens de Tobe e de Maacá estavam à parte no campo.
9 Vendo, pois, Joabe que a batalha estava preparada contra ele pela frente e pela retaguarda, escolheu alguns homens dentre a flor do exército de Israel, e formou-os em linha contra os sírios;
10 e entregou o resto do povo a seu irmão Abisai, para que o formasse em linha contra os amonitas.
11 E disse-lhe: Se os sírios forem mais fortes do que eu, tu me virás em socorro; e se os amonitas forem mais fortes do que tu, eu irei em teu socorro.
12 Tem bom ânimo, e sejamos corajosos pelo nosso povo, e pelas cidades de nosso Deus; e faça o Senhor o que bem lhe parecer.
13 Então Joabe e o povo que estava com ele travaram a peleja contra os sírios; e estes fugiram diante dele.
14 E, vendo os amonitas que os sírios fugiam, também eles fugiram de diante de Abisai, e entraram na cidade. Então Joabe voltou dos amonitas e veio para Jerusalém.
15 Os sírios, vendo que tinham sido derrotados diante de Israel, trataram de refazer-se.
16 E Hadadézer mandou que viessem os sírios que estavam da outra banda do rio; e eles vieram a Helã, tendo à sua frente Sobaque, chefe do exército de Hadadézer.
17 Davi, informado disto, ajuntou todo o Israel e, passando o Jordão, foi a Helã; e os sírios se puseram em ordem contra Davi, e pelejaram contra ele.
18 Os sírios, porém, fugiram de diante de Israel; e Davi matou deles os homens de setecentos carros, e quarenta mil homens de cavalaria; e feriu a Sobaque, general do exército, de sorte que ele morreu ali.
19 Vendo, pois, todos os reis, servos de Hadadézer, que estavam derrotados diante de Israel, fizeram paz com Israel, e o serviram. E os sírios não ousaram mais socorrer aos amonitas.” (II Sm 10.1-19).