Comentário de 2 Tessalonicenses 1.5
Por João Calvino
“Prova clara do justo juízo de Deus, para que sejais havidos por dignos do reino de Deus, pelo qual também padeceis;” (2 Tessalonicenses 1.5)
“Prova clara do justo juízo de Deus”. Sem mencionar a exposição dada por outros, sou da opinião de que o verdadeiro sentido é este – que as injúrias e perseguições que pessoas piedosas e inocentes sofrem por parte dos ímpios e dissolutos revelam claramente, como em um espelho, que Deus um dia será o juiz do mundo. E esta declaração está em total contraste com aquela noção profana que estamos acostumados a nutrir, sempre que vai bem com os bons e mal com os ímpios. Pois pensamos que o mundo está sob a ordem do mero acaso, e deixamos Deus sem controle. É por isso que a impiedade e o desprezo tomam posse dos corações dos homens, como fala Salomão (Ec 9:3) – pois aqueles que sofrem algo imerecidamente ou lançam a culpa em Deus, ou não pensam que ele se interesse pelos negócios humanos. Ouvimos o que diz Ovídio: “Sou tentado a pensar que não existem deuses”. Mais ainda, Davi confessa (Sl 73.1-12) que, porque via as coisas em um estado tão confuso no mundo, por pouco havia escorregado, como em um terreno escorregadio. Por outro lado, os ímpios tornam-se mais insolentes por ocasião da prosperidade, como se nenhum castigo de seus crimes os aguardasse; assim como Dionísio, ao fazer uma próspera viagem, jactou-se de que os deuses favoreciam os sacrílegos. Por fim, quando vemos que a crueldade dos ímpios contra os inocentes circula com impunidade, o senso carnal conclui que não há juízo de Deus, que não há castigos para os ímpios, que não há recompensa para a justiça.
Mas, por outro lado, Paulo declara que, como Deus assim poupa os ímpios por um tempo, e tolera as injúrias infligidas sobre o seu povo, Seu juízo futuro é revelado a nós como em um espelho. Pois ele tem por certo que isto só pode ser porque Deus, que é um justo Juíz, um dia restaurará a paz aos miseráveis, que agora são injustamente afligidos, e pagará aos opressores dos que são piedosos a recompensa que mereceram. Por isso, se mantemos este princípio de fé, de que Deus é o justo Juíz do mundo, e de que é seu ofício dar a cada um a recompensa de acordo com as suas obras, este segundo princípio seguir-se-á incontestavelmente – que o atual estado desordeiro das coisas (ataxian) é uma demonstração do juízo que ainda não se vê.
Pois, se Deus é o justo Juiz do mundo, as coisas que agora estão confusas devem, por necessidade, ser restauradas à ordem. Ora, nada está mais desordenado do que o fato de que os ímpios, com impunidade, causam incômodo aos bons, e circulam com irrestrita violência, enquanto os bons são cruelmente afligidos sem nenhuma falta de sua parte. Através disto pode-se inferir prontamente que Deus um dia subirá à tribuna de Juízo, a fim de remediar o estado das coisas no mundo, trazendo-as a uma melhor condição.
Por isso, a declaração que ele acrescenta – de que é justo diante de Deus que dê em paga tribulação, etc, é o fundamento desta doutrina, de que Deus provê sinais de um juízo futuro quando se abstém, no presente, de exercer o ofício de juíz. E, sem sombra de dúvida, se as coisas estivessem agora ordenadas de um modo tolerável, de modo que o juízo de Deus pudesse ser reconhecido como tendo sido plenamente exercido, um ajuste desta natureza nos deteria sobre a terra. Por isso Deus, a fim de nos incitar à esperança de um juízo futuro, julga o mundo no presente apenas até certa medida. É verdade que ele fornece muitos sinais do seu juízo, mas é de tal modo que nos obriga a prolongarmos nossa esperança ainda mais. Esta é uma passagem realmente notável, pois nos ensina de que modo nossas mentes deveriam se elevar acima de todos os impedimentos do mundo, sempre que sofremos alguma adversidade – que o justo juízo de Deus possa se apresentar à nossa mente, o qual nos elevará acima deste mundo. Assim a morte será uma imagem da vida.
“Para que sejais havidos por dignos”. Não há nenhuma perseguição que possa ser considerada de tal valor que nos faça dignos do reino de Deus, e Paulo também não discute aqui o fundamento da dignidade, mas simplesmente toma a doutrina comum da Escritura – que Deus destrói em nós as coisas que são do mundo, a fim de restaurar em nós uma vida melhor; e ainda, que, por meio das aflições, ele nos mostra o valor da vida eterna. Em suma, ele simplesmente aponta a maneira em que os crentes são preparados e, por assim dizer, refinados sob a bigorna de Deus – porquanto, pelas aflições, são ensinados a renunciar ao mundo e a mirar o reino celestial de Deus. Ademais, eles são confirmados na esperança da vida eterna enquanto lutam por ela. Pois esta é a entrada acerca da qual Cristo discursou aos seus discípulos (Mt 7.13; Lc 13.24).
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