Comentário de Gálatas 6.15,16

Por João Calvino

“Gál 6:15 Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura.

Gál 6:16 E, a todos quantos andarem de conformidade com esta regra, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus.”

15. “Pois em Cristo Jesus”. A razão por que Paulo está crucificado para o mundo e o mundo para ele é que, em Cristo, em quem o apóstolo está enxertado, somente uma nova criatura é de algum valor. Tudo mais deve ser descartado; não, perecido! Estou me referindo às coisas que obstruem a renovação procedente do Espírito. Isso é o que ele diz em 2 Coríntios: “Se alguém está em Cristo, que ele seja uma nova criatura” (2 Coríntios 5.17). Ou seja, se alguém deseja ser considerado dentro do reino de Cristo, que ele seja reformado pelo Espírito de Deus; que não mais viva para si mesmo nem para o mundo, senão que se erga para uma nova vida. A razão por que ele conclui que nem circuncisão nem incircuncisão é de algum valor já foi mencionada. A verdade do evangelho absorve e desfaz todas as sombras da lei.

16. “E a todos quantos andarem conforme esta regra”. “Que todos quantos sustentam esta regra”, diz ele, “desfrutam de prosperidade e felicidade!” Isso equivale tanto como uma oração por eles quanto como um sinal de aprovação. Sua intenção, portanto, é que todos aqueles que ensinam esta doutrina são dignos de amor e beneplácito; e, por outro lado, os que a abandonam não são dignos de ser ouvidos. Ele usa a palavra regra para expressar o sólido e contínuo curso que todos os piedosos ministros do evangelho devem seguir. Pois como os arquitetos, ao erigir edifícios elaboram um plano, para que todas as partes se harmonizem em perfeita proporção e simetria, assim o apóstolo confia aos ministros da Palavra um cânon (padrão) por meio do qual pudessem edificar a Igreja adequada e ordeiramente.

Esse lugar deve gerar profundo zelo aos fiéis e honestos mestres e a todos quantos se permitem conformar a essa regra, pois nela ouvem Deus abençoando-os pelos lábios de Paulo. Não carecemos de recear os trovões de líderes religiosos, se Deus nos promete do céu paz e misericórdia. O verbo andar, aqui, pode aplicar-se tanto ao ministro quanto ao povo, ainda que sua referência seja primordialmente aos ministros. O tempo futuro do verbo é usado para expressar perseverança.

“E sobre o Israel de Deus”. Esta cláusula se constitui num motejo indireto à vã ostentação dos falsos apóstolos, os quais alegavam ser os descendentes de Abraão segundo a carne. Ele, pois, produz um duplo Israel: um, uma simulação e visível somente aos homens; o outro, visível somente a Deus. A circuncisão era um sinal aos olhos humanos; a regeneração, porém, é a verdade aos olhos de Deus. Numa palavra, ele agora os chama o Israel de Deus, a quem anteriormente se chamavam filhos de Abraão pela fé, e portanto se incluíam todos os crentes, quer gentios, quer judeus, que foram unidos numa mesma Igreja. Em contrapartida, o Israel segundo a carne só pode reivindicar o nome e a raça, e disso ele trata em Romanos 9.

João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 07/09/2014
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