Comentário de João 1.4
Por João Calvino
“A vida estava nele e a vida era a luz dos homens.” (João 1.4)
“Nele estava a vida”. Até agora, João nos ensinou, que todas as coisas foram criadas pelo Logos de Deus. Ele agora atribui a ele, da mesma forma, a preservação das coisas que tinham sido criadas, como se ele tivesse dito, que na criação do mundo não foi apenas exibido um exercício repentino de seu poder, que logo faleceu, mas que se manifestou na forma constante e regular da natureza, como dele é dito que mantém todas as coisas pela palavra ou a vontade de seu poder (Hebreus 1.3). Esta vida pode ser estendida ainda às criaturas inanimadas (que vivem segundo a sua própria maneira, embora elas sejam desprovidas de sentimentos) ou pode ser explicado em referência às criaturas vivas exclusivamente. É de pouca conseqüência que você escolha; porque o significado simples é, que o Logos de Deus não era apenas a fonte de vida para todas as criaturas, de modo que aqueles que não existiam começaram a ser, senão que a sua doação de poder vivificante faz com que eles permaneçam em sua condição; porque se não fosse a sua contínua inspiração dando vigor ao mundo, tudo o que vive decairia imediatamente, ou seria reduzido a nada. Em uma palavra, o que Paulo atribui a Deus, que nele existimos, nos movemos, e vivemos (Atos 17:28), João declara ser realizado pela agência graciosa do Logos; de modo que é Deus quem nos dá a vida, mas isto é pelo Logos eterno .
“A vida era a luz dos homens”. Eu deixo de lado as outras interpretações que não são feitas de acordo com o significado do evangelista. Na minha opinião, ele fala aqui daquela parte da vida em que os homens se diferenciam dos outros animais; e informa-nos que a vida que foi conferida aos homens não era de uma descrição comum, mas estava unida à luz da compreensão. Ele separa o homem da posição de outras criaturas; porque percebemos mais facilmente o poder de Deus, sentindo-o em nós, do que por contemplá-lo à distância. Assim, Paulo nos exorta a não procurar Deus à distância, porque ele se faz sentir dentro de nós (Atos 17.27.) Depois de ter apresentado uma exposição geral da bondade de Cristo, a fim de induzir os homens a ter uma visão mais próxima da mesma, ele aponta o que foi concedido peculiarmente em si mesmos; ou seja, que eles não foram criados como os animais, mas tendo sido dotados de razão, tinham obtido uma classificação mais elevada. Como não é em vão que Deus dá sua luz à sua mente, segue-se que a finalidade para a qual eles foram criados era, que eles pudessem reconhecer Aquele que é o Autor de tão excelente bênção. E uma vez que esta luz, da qual o Logos foi a fonte, foi transportada dele para nós, isto deveria servir como um espelho, em que podemos contemplar claramente o poder divino do Logos.
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.