Comentário de I Tessalonicenses 5.6,7
Por João Calvino
“6. Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios;
7. Porque os que dormem, dormem de noite, e os que se embebedam, embebedam-se de noite.”
“Não durmamos, pois”. Paulo acrescenta outra metáfora em estreita relação com a precedente. Pois, assim como anteriormente explicara que não era de modo algum conveniente que eles fossem cegos em meio à luz, do mesmo modo ele admoesta agora que era vergonhoso e infame dormir ou estar embriagado durante o dia. Ora, assim como dá o nome de dia à doutrina do evangelho, pela qual Cristo, o Sol da justiça (Ml 4:2), manifesta-se a nós; assim também, quando fala do sono e da embriaguez, ele não se refere ao sono natural, ou à embriaguez do vinho, e sim ao estupor da mente, quando, esquecendo-nos de Deus e de nós mesmos, desculpamos negligentemente nossos vícios. Não durmamos, diz ele; ou seja, não nos tornemos, por estarmos imersos na indolência, insensatos no mundo. Como os demais, ou seja, os incrédulos, dos quais a ignorância acerca de Deus, como uma noite escura, remove o entendimento e a razão. Mas vigiemos, ou seja, olhemos para o Senhor com uma mente solícita. E sejamos sóbrios, isto é, lançando fora os cuidados do mundo, que nos oprimem pelo seu peso, e livrando-nos das paixões abjetas, subamos para o céu com liberdade e entusiasmo. Pois é sobriedade espiritual, quando usamos este mundo tão frugal e temperadamente que não nos envolvemos em seus fascínios.
(Nota do Pr Silvio Dutra: Tomemos por assentado, que nesta dispensação da graça, que tem durado desde a morte e ressurreição de Jesus, que a nenhuma pessoa, e a nenhuma instituição tem sido dado por Deus, que em nome da religião, se faça acepção, ou injúria, maldição ou condenação de quem quer que seja, e muito menos que se use de violência seja ela moral ou física em nome de se defender a santidade e justiça de Deus. Ao contrário é ordenado aos que amam e conhecem a Deus em espírito, que amem a todos, inclusive a seus inimigos, e que perdoem e bendigam os que lhes amaldiçoam, injuriam ou perseguem.
Quando encontramos em comentários bíblicos o terrível destino que está reservado àqueles que se opuserem a Deus até o final de suas vidas, como vemos por exemplo não apenas nos comentários de Calvino, mas nos de todos aqueles que são fiéis à pregação e ensino da verdade revelada nas Escrituras, o que se tem em foco não é uma ameaça ou um aborrecimento declarado da parte de homens, senão um alerta misericordioso da parte do próprio Deus, que é quem o afirma, pela boca dos seus ministros o que há de suceder no dia do juízo final, de modo que pelo arrependimento, possam se converter e serem livrados da condenação.)