Comentário de I Tessalonicenses 5.4,5
Por João Calvino
“4. Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão;
5. Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas.”
“Mas vós, irmãos”. Agora Paulo lhes admoesta quanto a qual seja o dever dos crentes – que eles olhem adiante com esperança para esse dia, ainda que esteja remoto. E esta é a finalidade da metáfora do dia e da noite. A vinda de Cristo apanhará de surpresa aqueles que negligentemente dão lugar à indulgência, porque, estando envolvidos em trevas, nada veem, pois nenhuma treva é mais densa do que a ignorância acerca de Deus. Nós, por outro lado, em quem Cristo resplandeceu pela fé do seu evangelho, diferimos muito deles, pois aquele dito de Isaías é verdadeiramente cumprido em nós, de que “embora as trevas cubram a terra, o Senhor surge sobre nós, e a sua glória se vê sobre nós” (Is 60:2).
Ele nos admoesta, portanto, que seria algo inconveniente que fôssemos apanhados por Cristo, por assim dizer, dormindo, ou não vendo nada, enquanto o pleno esplendor da luz resplandece sobre nós. Ele os chama de filhos da luz, em harmonia com o idioma hebraico, como significando providos de luz; assim também como filhos do dia, significando aqueles que desfrutam da luz do dia. E isto ele confirma novamente, quando diz que não somos da noite nem das trevas, porque o Senhor nos resgatou delas. Pois é como se tivesse dito que não fomos iluminados pelo Senhor com vistas a andar em trevas.
(Nota do Pr Silvio Dutra: Tomemos por assentado, que nesta dispensação da graça, que tem durado desde a morte e ressurreição de Jesus, que a nenhuma pessoa, e a nenhuma instituição tem sido dado por Deus, que em nome da religião, se faça acepção, ou injúria, maldição ou condenação de quem quer que seja, e muito menos que se use de violência seja ela moral ou física em nome de se defender a santidade e justiça de Deus. Ao contrário é ordenado aos que amam e conhecem a Deus em espírito, que amem a todos, inclusive a seus inimigos, e que perdoem e bendigam os que lhes amaldiçoam, injuriam ou perseguem.
Quando encontramos em comentários bíblicos o terrível destino que está reservado àqueles que se opuserem a Deus até o final de suas vidas, como vemos por exemplo não apenas nos comentários de Calvino, mas nos de todos aqueles que são fiéis à pregação e ensino da verdade revelada nas Escrituras, o que se tem em foco não é uma ameaça ou um aborrecimento declarado da parte de homens, senão um alerta misericordioso da parte do próprio Deus, que é quem o afirma, pela boca dos seus ministros o que há de suceder no dia do juízo final, de modo que pelo arrependimento, possam se converter e serem livrados da condenação.)