Comentário de I Tessalonicenses 5.3
Por João Calvino
“Pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida, e de modo nenhum escaparão.” (I Tessalonicenses 5.3)
“Pois que, quando disserem”. Aqui temos uma explicação da comparação: o dia do Senhor virá como o ladrão de noite. Por que assim? Porque virá subitamente para os incrédulos, quando não for esperado, de modo que os apanhará de surpresa, como se estivessem dormindo. Mas de onde vem esse sono? Certamente do profundo desprezo a Deus. Os profetas frequentemente reprovam os ímpios por conta desta negligência supina; e eles certamente esperam com espírito de negligência, não apenas esse juízo final, mas também aqueles que são de ocorrência diária. Embora o Senhor ameace com a destruição, eles não hesitam em prometer a si mesmos paz e todo o tipo de prosperidade. E a razão pela qual caem nesta indolência destrutiva é porque não veem como imediatamente cumpridas as coisas que o Senhor declara que acontecerão, pois consideram fabuloso aquilo que não se apresenta imediatamente aos seus olhos. Por esta razão, o Senhor, a fim de se vingar desta negligência, que é cheia de obstinação, vem de repente, e, contra a expectativa de todos, precipitará os ímpios do cume da felicidade. Às vezes ele dá sinais desta natureza de um advento repentino, mas isto será o principal – quando Cristo descer para julgar o mundo, como ele mesmo testifica (Mt 24:37), comparando esse tempo à época de Noé, porquanto todos deram lugar aos excessos, como se estivessem no mais profundo repouso.
“Como as dores de parto”. Aqui temos uma comparação muito apropriada, porquanto não há mal que acometa mais subitamente, e que acosse mais severamente e mais violentamente logo no primeiro ataque; além disto, uma mulher grávida traz em seu ventre a ocasião de tristeza sem senti-la, até que seja tomada em meio ao banquete e ao riso, ou durante o sono.
(Nota do Pr Silvio Dutra: Tomemos por assentado, que nesta dispensação da graça, que tem durado desde a morte e ressurreição de Jesus, que a nenhuma pessoa, e a nenhuma instituição tem sido dado por Deus, que em nome da religião, se faça acepção, ou injúria, maldição ou condenação de quem quer que seja, e muito menos que se use de violência seja ela moral ou física em nome de se defender a santidade e justiça de Deus. Ao contrário é ordenado aos que amam e conhecem a Deus em espírito, que amem a todos, inclusive a seus inimigos, e que perdoem e bendigam os que lhes amaldiçoam, injuriam ou perseguem.
Quando encontramos em comentários bíblicos o terrível destino que está reservado àqueles que se opuserem a Deus até o final de suas vidas, como vemos por exemplo não apenas nos comentários de Calvino, mas nos de todos aqueles que são fiéis à pregação e ensino da verdade revelada nas Escrituras, o que se tem em foco não é uma ameaça ou um aborrecimento declarado da parte de homens, senão um alerta misericordioso da parte do próprio Deus, que é quem o afirma, pela boca dos seus ministros o que há de suceder no dia do juízo final, de modo que pelo arrependimento, possam se converter e serem livrados da condenação.)