Comentário de I Tessalonicenses 4.11,12
Por João Calvino
“11. E procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios negócios, e trabalhar com vossas próprias mãos, como já vo-lo temos mandado;
12. Para que andeis honestamente para com os que estão de fora, e não necessiteis de coisa alguma.”
“Mantende a paz”. Já disse que esta cláusula pode ser separada do que vem antes, pois esta é uma sentença nova. Ora, estar em paz significa, nesta passagem, agir pacificamente e sem inquietação, como também dizemos em francês: sans bruit (sem barulho). Em suma, Paulo os exorta a serem pacíficos e tranquilos. Este é o teor do que acrescenta logo após: tratar dos vossos próprios negócios; pois normalmente vemos que aqueles que se intrometem com precipitação nos negócios alheios causam grande inquietação, e aborrecimentos a si mesmos e a outros. Portanto, este é o melhor caminho para uma vida tranquila – quando cada um, aplicado aos deveres do seu próprio chamado, cumpre esses deveres que lhe são prescritos pelo Senhor, e se devota a tais coisas: enquanto o lavrador se emprega nas tarefas rurais, o operário exerce a sua ocupação, e deste modo cada um se mantém dentro dos seus próprios limites. Tão logo os homens se desviem disto, todas as coisas são lançadas em confusão e desordem. Contudo, ele não quer dizer que todos devem tratar de seus próprios negócios de tal modo que todos vivam separados, não se importando com os outros, mas apenas tem em vista corrigir uma leviandade inútil, que provoca tumultos barulhentos em público por meio de homens que deveriam levar uma vida sossegada em suas próprias casas.
“Trabalhar com vossas próprias mãos”. Ele recomenda o trabalho manual por duas razões – para que eles pudessem ter uma suficiência de meios para o sustento da vida, e para que se conduzissem honrosamente inclusive diante dos incrédulos. Pois nada é mais inconveniente do que um homem ocioso e bom para nada, que não beneficia nem a si mesmo nem a outros, e parece ter nascido apenas para comer e beber. Além disso, este trabalho ou sistema de trabalho se estende mais ainda, pois o que ele diz quanto às mãos é uma sinédoque; mas não pode haver dúvida de que inclui toda a ocupação útil da vida humana.