Teoricamente sábios

“Teoria é quando se sabe tudo e nada funciona. Prática é quando tudo funciona e ninguém sabe por quê.” ( Anônimo )

Essa sacada meio irônica bem combina com o “status quo” religioso encontrado por Jesus. Escribas, Fariseus, Saduceus, Doutores da Lei chegavam-se a Ele para debater; o intento? Demonstrar que eram conhecedores dos Oráculos de Deus, ou, que Cristo não era.

“E eis que se levantou certo doutor da lei, tentando-o e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?” Luc 10; 25 e 26

Mesmo não tendo estudado a dialética socrática, o Mestre devolveu a pergunta; a suposição era que ambos conheciam a Lei. Caso houvesse discrepâncias seria de interpretação. Então, o Senhor quis saber como aquele interpretava. “Como lês?”

“E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças, de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.” VS 27 e 28

Realmente, o conhecimento do Doutor era precioso, pois, sintetizar toda a Lei em dois mandamentos, amor a Deus e ao próximo, o mesmo Jesus ensinou. Porém, “na prática a teoria é outra”, como diria Joelmir Betting.

O Senhor não era mero teórico, antes, demonstrava de modo prático Seus ensinos. Desafiou ao Doutor que fizesse o mesmo. “Faze isso...” Nada mais frustrante a um teórico empedernido que o fim do pleito com um desafio à prática. Ele não gostou do fim precoce da brincadeira e resolveu prolongar um pouco. “Ele, porém, querendo justificar a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?” v 29

Aí o Mestre contou a clássica história do peregrino assaltado e ferido, deixado moribundo junto ao caminho, que fora ignorado por dois passantes. Um; sacerdote; outro, Levita; teoricamente, dois servidores de Deus. ( não dá pra ignorar a penetrante ironia dessa história ) “Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; e, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; pondo-o sobre a sua cavalgadura levou-o para uma estalagem e cuidou dele; partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro e disse-lhe: Cuida dele; tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai; faze da mesma maneira.” VS 33 a 37

Além da dupla ironia de acentuar a indiferença dos religiosos e tomar como benfeitor um samaritano, considerado maldito pelos “santos”, o Senhor encerrou sua história com o mesmo desafio do princípio; sai da teoria e age! “ Vai; faze da mesma maneira.”

O fato de que a salvação é pela fé, não por obras, visa podar qualquer pretensão de mérito humano no que é de Cristo; não, tolher às boas obras que devem testificar o que Jesus fez em nós. Tiago ensina: “Mas dirá alguém: Tu tens a fé eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” Tg 2; 18

As obras de justiça prescindem, muitas vezes, de palavras; nem por isso, deixam de iluminar. “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai, que está nos céus.” Mat 5; 16

Por outro lado, meras palavras desprovidas de verdade cansam a mais não poder. Estamos em pleno horário eleitoral no Brasil, onde os teóricos deitam e rolam. A sensação que passam é que 60% do que falam é mentira; 40% utopia; o resto é verdade. Não sem razão, pois, que quando de sua dura diatribe aos Fariseus, o adjetivo recorrente nos lábios do Mestre foi, “Hipócritas!”

O grande dilema da Teoria da Evolução, por exemplo, é a dificuldade de demonstração prática. Os fatos insistem em negar sua veracidade. Quanto à verificação de Sua Doutrina, Jesus desafiou eventuais céticos a testarem-na, na arena da prática para confirmarem em si mesmos a eficácia da “teoria.” “...A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou, se eu falo de mim mesmo.” Jo 7; 16 e 17

Uma vez mais somos chamados a deixar o discutir para agir conforme; há tantos “próximos” bem próximo... Se meu saber não melhora meu agir, no fundo, é só um refém da ignorância em busca de aplausos como resgate.