Comentário de Filipenses 4.6

 
Por João Calvino
 
“Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças.” (Filipenses 4.6)
 
“De coisa alguma”. Isto está  no número singular conforme usado por  Paulo, mas é o gênero neutro; a expressão, portanto, é equivalente a negotio omni (em cada matéria) pela (oração) e (súplica) são substantivos femininos. Com estas palavras, ele exorta os filipenses, como Davi faz a todos os piedosos no Salmo 55.22, e Pedro também em 1 Pedro 5.7, para lançar todos os seus cuidados sobre o Senhor. Porque não somos feitos de ferro, de modo a não sermos abalados pelas tentações. Mas este é o nosso consolo - depositar, ou (para falar com maior propriedade) lançar nossos fardos sobre o seio de Deus, lançar tudo o que nos assedia. A confiança, é verdade, traz tranquilidade às nossas mentes, mas isto é o caso somente quando nos  exercitamos em orações. Sempre que, por isso, se somos assaltados por qualquer tentação, devemos nos recolher imediatamente à oração, como a um asilo sagrado. 
O termo “petição” é empregado aqui para denotar desejos. Ele quer que os tornemos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica, como se os crentes derramassem seu coração diante de Deus, quando eles consagram tudo o que são e o que têm, a ele. Aqueles, na verdade, que olham para cá e para lá os confortos vãos do mundo, podem parecer estar em algum grau aliviados; mas há somente um refúgio seguro – lançar-se sobre o Senhor.
“Com ação de graças”. Como muitas vezes oramos a Deus de modo  errado, cheios de queixas ou de murmúrios, como se tivéssemos fundamento para acusá-lo, enquanto outros não podem tolerar demoras, se ele não satisfizer imediatamente seus desejos, Paulo nesta conta conjuga ação de graças com orações. É como se ele tivesse dito, que as coisas que são necessárias para nós devem ser desejadas por nós para serem recebidas do Senhor de tal maneira, que nós, no entanto, submetemos nossos afetos à sua boa vontade, e damos graças ao apresentar petições. E, sem dúvida, a gratidão terá esse efeito sobre nós - que a vontade de Deus será a grande essência de nossos desejos.
 
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.
 

 
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João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 22/08/2014
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