Sobre a Vida Cristã – Parte 3
CAPÍTULO II
Por João Calvino
Um Resumo da Vida Cristã – A Autonegação
Em outra passagem, Paulo dá uma breve, de fato, mas mais distinta conta de cada uma das partes de uma vida bem ordenada: "A graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e as paixões mundanas, vivamos sóbria, justa e piedosamente, no presente mundo; à procura da bem-aventurada esperança e do aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo; que se entregou por nós, para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo todo seu, zeloso de boas obras." (Tito 2.11-14). Depois afirmando a graça de Deus para nos animar, e pavimentar o caminho para a Sua verdadeira adoração, ele remove os dois maiores obstáculos que se interpõem no caminho: a impiedade, a que somos, por natureza, muito propensos, e as paixões mundanas, que são ainda de maior extensão. Sob a impiedade, ele inclui não apenas a superstição, mas tudo que está em desacordo com o verdadeiro temor de Deus. Paixões mundanas são equivalentes aos desejos da carne. Assim, ele nos exorta, em relação a ambas as tábuas da lei, para deixar de lado a nossa própria mente, e renunciar a tudo o que a nossa própria razão e vontade ditam. Então ele reduz todas as ações de nossas vidas a três ramos: sobriedade, justiça e piedade. A sobriedade, sem dúvida, representa bem a castidade e a temperança assim como o uso puro e frugal dos bens temporais, e a paciência na necessidade. A justiça compreende todas as funções de equidade, pelo dar a cada um o que lhe é devido. Em seguida vem a piedade, a qual nos separa das corrupções do mundo, e nos conecta com Deus, em verdadeira santidade. Estes, quando ligados entre si por uma cadeia indissolúvel, constituem a completa perfeição. Mas como nada é mais difícil do que dizer adeus à vontade da carne, subjugar, ou melhor, abjurar as nossas luxúrias, nos dedicar a Deus e aos nossos irmãos, e levar uma vida santa em meio às corrupções do mundo, Paulo, para manter nossa mentes livres de todos os envolvimentos, nos lembra que a esperança de uma bendita imortalidade, é o que nos incita a lutar, porque assim como Cristo apareceu uma vez como nosso Redentor, também em sua vinda final, ele vai dar pleno efeito à salvação obtida por ele. E desse modo ele dissipa todas as seduções que obscureceram o nosso caminho, e nos impediam de aspirar como deveríamos a glória celestial; ou melhor, ele nos diz que devemos ser peregrinos no mundo, para que não falhemos em obter a herança celestial.
Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.
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