Ele Desceu por Nós

 
Por D. M. Lloyd Jones
 
"Desci." Eis aí o Filho eterno de Deus, Aquele de quem João escreve: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (João 1:1). "Deus em três Pessoas, bendita Trindade", escreveu o escritor de hinos Reginald Heber: o Pai, o Filho e o Espírito Santo gozando, sem mescla ou confusão, a glória da eternidade. Mas, num dado ponto, o Filho, "veio morar na terra", como diz o hino infantil:
 
Gosto de ouvir a história
Que os anjos do céu contam,,
Que o eterno Rei da glória
Veio morar na terra,
- Emily Huntingdon Miller
 
Esse é o significado do bebê de Belém. Este é Deus o Filho que desceu ao mundo. Ele deixou os palácios do céu.
Dos sublimes palácios da glória A cruz da mais profunda miséria. - Robert Robinson
 
Foi isso que aconteceu no nascimento de Jesus de Nazaré na pequena vila de Belém. Deus, o Filho eterno, desceu na semelhança de homem, "em semelhança da carne do pecado" (Romanos 8:3). Ele humilhou-Se; despiu-Se dos sinais e da insígnia da Sua glória sempiterna. Oh, vejam o que isso significa! Assim como Deus disse a Moisés, "enviar-te-ei ao Egito", assim também Deus enviou Seu Filho unigênito ao Egito do nosso mundo, ao lugar de tormento e vergonha, de servidão, de agonia e de angústia que já descrevi para vocês. Deus enviou Seu Filho unigênito ao Egito da nossa vida.
Observem-nO, vejam Sua fraqueza, um bebê indefeso. Todas as coisas foram feitas por intermédio dEle, Ele sustenta todas as coisas e, todavia, nasceu com abjeta fraqueza, deitado numa manjedoura, completamente desamparado, Examinem a pobreza na qual Ele nasceu. Maria e José não puderam oferecer um cordeiro em sacrifício - somente um par de rolas (Lucas 2:24). Nascido num estábulo! Deitado numa manjedoura! O Filho de Deus! Ei-lo aqui. Sua auto-humilhação: Ele identificou-Se conosco. "Enviar-te-ei ao Egito", disse Deus a Moisés. E disse a mesma coisa a Seu Filho. Desce! Desce, vive entre eles, sê como um deles.
E o nosso Senhor fez isso. Identificou-se conosco. Trabalhou com Suas mãos como carpinteiro, teve vida comum. Ouviu toda a tagarelice, todos os mexericos e toda a maledicência, todas as coisas cruéis e maldosas que as pessoas dizem umas das outras - como faziam a respeito dele. Ele conheceu tudo isso, esteve em tudo isso, participou disso tudo. Veio deliberadamente ao Egito das nossas vidas e compartilhou todos os nossos fardos e problemas.
Que aconteceu com Moisés no Egito? Leiam o livro de Êxodo, leiam sobre o seu conflito, a sua contenda com Faraó e com os magos do Egito, a terrível luta que se seguiu. Quando Deus enviou Seu Filho ao mundo, enviou-O a um lugar de conflito. Com que Ele teve que lutar? Teve que lutar com o diabo; foi tentado quarenta dias e quarenta noites no deserto. O diabo O provou e fez tudo o que pôde para derribá-lO, para pô-10 abaixo. Mas Ele o combateu. E vejam a luta com os escribas, os fariseus e os herodianos, observem o espaço dado a tudo isso nos quatro Evangelhos. Lá estavam eles, sempre a questioná-lo, a fazer-Lhe perguntas ladinas e capciosas toda essa loucura e todo esse opróbrio! Mas Ele Se sujeitou a isso. Passou por isso tudo. Ele sabia que é isso que acontece com todos nós, e assim se identificou conosco; compartilhou nossas vidas.
E não somente isso; observem a sonolência, a estultícia e a lerdeza dos Seus seguidores, o embotamento destes discípulos, que não conseguiam ver o ponto e ficavam fazendo constantemente as mesmas perguntas tolas. Não entendiam nada, e principalmente entendiam mal a coisa mais gloriosa, a saber, Sua morte na cruz. Houve então a traição de Judas, um dos pertencentes ao círculo mais íntimo, homem a quem Ele abrira o Seu coração, a ele e a todos os outros - Judas, que O traiu, vendeu-O só para obter dinheiro, usou o nosso Senhor para servir a seus nefandos projetos e idéias. Judas! Traição! Vergonha! Deslealdade! Ele suportou tudo isso. Ele veio deliberadamente. Veio a fim de passar por tudo isso porque sabia que os Seus tinham que suportar e sofrer esse tipo de coisa. E depois Ele passou por uma das coisas mais terríveis, quando os Seus discípulos, "deixando-o, todos, fugiram" Marcos 14:50). Até os Seus amigos mais chegados O abandonaram, e Pedro O negou rogando pragas e maldições. Isso é história; essas coisas aconteceram literalmente, e era o Filho de Deus que estava sofrendo tudo isso.
Mas não chegamos à crise final, e é neste ponto que Moisés empalidece reduzido a uma insignificância. Moisés é um tipo de Jesus Cristo, porém, quando se passa ao próximo ponto, Moisés desaparece completamente do mapa. Moisés fora instruído para dizer ao povo de Israel que naquela crucial e dramática noite de Páscoa Deus ia punir os egípcios por terem maltratado o Seu povo. Uma praga destruiria todos os primogênitos da terra do Egito - mas, como seriam salvos os filhos de Israel? Eis o expediente projetado: cada família deveria matar um cordeiro, coletar o sangue, embeber nele um molho de hissopo e molhar com ele as ombreiras e a verga das portas das casas. Então, quando o anjo destruidor passasse pelo território, veria o sangue e passaria por alto aquelas casas. Essa foi a mensagem, e foi isso que aconteceu. Os filhos de Israel foram tirados do Egito nessa dramática e momentosa noite.
Isso é apenas uma figura do que Deus fez por mim e por vocês na pessoa de Seu Filho unigênito. O Filho de Deus não somente veio a este mundo, não somente veio "semelhante aos homens" (Filipenses 2:7), não somente Se humilhou e Se fez servo - não, não, a coisa vai mais longe que isso. Ele foi "obediente até à morte, e morte de cruz" (Filipenses 2:8). Ele veio a fim de morrer na cruz: era preciso que Seu sangue fosse derramado. Por quê? Oh, meus amigos, por esta razão: para que no juízo Deus passasse por cima da pessoa coberta com esse sangue, a fim de que ela fosse perdoada e posta em liberdade! Ele veio para fazer isso. Ele é o Cordeiro de Deus!
O apóstolo Pedro, em sua Primeira Epístola, lembra essa verdade às pessoas cristãs para as quais está escrevendo com estas palavras:
"Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós; e por eles credes em Deus" (1 Pedro 1:18-21).
Esse é o método divino de salvação. Ele enviou Seu Filho a este mundo para levar em Seu corpo os nossos pecados no madeiro. E esse o sentido do culto da Ceia do Senhor. Naquela última noite antes de ser crucificado, c nosso Senhor tomou o pão, partiu-o, e disse: "Tomai. comei: isto é o meu corpo que é partido por vós" (1 Coríntios 11:24). Vou dar minha vida por vocês, vou dar meu corpo. Depois serviu o vinho e disse: "Isto é (representa) o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que por muitos é derramado"* (Marcos 14:24) - derramado por vocês e por suas transgressões, a fim de que vocês, crendo nisto, não sejam punidos. Eu vou sofrer a punição que lhes cabe. Vou fazer de mim mesmo um sacrifício por vocês. Eu sou o Cordeiro de Deus, morte para que vocês sejam libertados. É o meu sangue que os resgata, que os redime, que os adquire e que os liberta da escravidão, dá servidão, da miséria do Egito, para que vocês possam partir e herdar Canaã, a terra que "mana leite e mel", para que conheçam as promessas de Deus, o amor de Deus, a misericórdia de Deus, a compaixão de Deus, Deus recebendo-os como Seus filhos, adotando-os e inserindo-os em Sua família, e derramando chuvas de bênçãos sobre vocês.
Essa é a mensagem. Esse é o sentido do Domingo de Ramos. Ele "manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém" (Lucas 9:51). Sua morte não foi a morte de um pacifista; Ele poderia ter escapado disso tudo: Ele o diz. Não, Ele o fez deliberadamente. Ele tinha vindo para realizar isso. Nisto se resume o ponto em geral - Deus O enviou para prover libertação, salvação, redenção para todos os que nele crêem. Seu sangue foi derramado para que nós, cobertos, por assim dizer, por Seu sangue, sejamos aceitos por Deus, sejamos poupados do juízo, da miséria eterna e da infelicidade de que somos mais que merecedores, e, ao contrário, para que nós entremos na herança dos filhos de Deus e dos santos na luz, e possamos contemplar de antemão a visão beatífica. "Bem--aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus" (Mateus 5:8). E isso é absoluto, é final e supremo, é tudo. E Ele pode limpar-nos: Seu sangue limpa o mais imundo, Seu sangue serviu para mim. - Charles Wesley

 
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D. M. Lloyd Jones
Enviado por Silvio Dutra Alves em 08/08/2014
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