Justiça; a fisionomia Divina

“Com minha alma te desejei de noite, e com o meu espírito, que está dentro de mim, madrugarei a buscar-te; porque, havendo os teus juízos na terra, os moradores do mundo aprendem justiça.” Is 26; 9

Comum é no seio cristão a expressão: Buscar a Deus. A Própria Palavra, aliás, promete recompensa aos que fizerem isso. “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” Heb 11; 6 Mais que apregoar a busca, o autor a tem por pacífica, e condiciona a forma, apenas; que façamos crendo na existência e bondade de Deus.

Se, o ato é consensual, o motivo nem tanto. Faz uma grande diferença buscarmos por razões nobres ou mesquinhas. Às últimas Tiago denunciou como inócuas, estéreis. “Cobiçais, e nada tendes; matais, sois invejosos, nada podeis alcançar; combateis e guerreais e nada tendes, porque não pedis. Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.” Tg 4; 2 e 3

Já, razões nobres temos na busca de Isaías: “Porque havendo teus juízos na Terra os moradores do mundo aprendem justiça.” Invés de uma visão egoísta, pequena, o escopo era coletivo, sacerdotal; o fito, a difusão da justiça. O Salvador corroborou com palavras semelhantes: “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” Mat 6; 33

Então, numa releitura de Hebreus 11; 6 podemos dizer que buscar justiça equivale a buscar a Deus; receber de sobejo as demais coisas, o galardão que Ele dá aos crentes.

Quando o relato do Gênesis diz que Deus criou o homem sua imagem e semelhança, forçoso é concluir que refere-se a atributos morais, intelectuais, espirituais; uma vez que Deus é espírito. O anseio de ver Deus deu azo a muitos simulacros indignos, como o Bezerro de ouro e outros tantos ídolos menos votados.

Davi inspirado pelo Espírito Santo plasmou uma Imagem mais adequada em seus cantos: “Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça; eu me satisfarei da tua semelhança quando acordar.” Salm 17; 15 Invés de um ídolo associou a Santa imagem de Deus à justiça. Do Senhor encarnado foi dito mais: “O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas;” Heb 1; 3

Assim, O Ser de Deus tanto fulge na justiça quanto na Face de Cristo, pois, o mesmo salmista profetizou traços do Salvador onde Seu amor à justiça é tema. “Tu és mais formoso do que os filhos dos homens; a graça se derramou em teus lábios; por isso Deus te abençoou para sempre. Cinge a tua espada à coxa, ó valente, com a tua glória e a tua majestade. E neste teu esplendor cavalga prosperamente, por causa da verdade, da mansidão e da justiça; e a tua destra te ensinará coisas terríveis. As tuas flechas são agudas no coração dos inimigos do rei, e por elas os povos caíram debaixo de ti. O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de equidade. Tu amas a justiça e odeias a impiedade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria mais do que aos teus companheiros.” Sal 45; 2 a 7

Amar a justiça não é tão difícil quando nos sentimos injustiçados e sua sombra nos favorece; entretanto, aborrecer à iniquidade significa amá-la ainda que sejamos réus, não pleiteantes. Assim, meu senso de justiça deve equalizar desejos e tratamentos entre mim e o semelhante, se, conheço, deveras, a Deus. “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também, porque esta é a lei e os profetas.” Mat 7; 12

Uma vez que somos propensos ao egoísmo e utilitarismo temos grande dificuldade de Buscar a Deus em Seus termos. Ouso dizer que uma busca sadia nesse viés nos faria desejar a remoção invés do acréscimo de coisas. Antes que uma confissão superficial das falhas convém suspeitarmos que mesmo à uma análise mais esmerada escaparam algumas; devemos suplicar remoção também. O mesmo Davi orou assim: “Quem pode entender os seus erros? Expurga-me tu dos que me são ocultos.” Sal 19; 12

Em suma, o “sine qua non” da busca é que seja de todo coração; isso tem mais a ver com depuração de motivos, conhecimento do caráter Divino, que, intensidade emotiva ou, crença. “...a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.” Sal 51; 17