A "Fisionomia" Divina
“Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens.” Luc 2; 14 “… Bendito o Rei que vem em nome do Senhor; paz no céu, e glória nas alturas.” Luc 19; 38
Interessante essa “divergência” quanto ao endereço da paz nesses dois cânticos alusivos à presença do Salvador. O primeiro entoado por anjos na ocasião de Seu nascimento apregoa paz na Terra; o segundo, quando se aproximava Sua morte cantado por homens mencionava paz no céu.
Sabemos que a paz é um bem que não existe de modo unilateral; se duas partes estão em conflito, como a humanidade e o Criador desde a queda, a paz só pode ser estabelecida entre as partes, no caso, Céu e Terra. Os dois cantos tinham algo em comum; posto que apregoavam paz em locais diferentes, diziam: “Glória a Deus nas alturas”.
O mesmo Salvador ensinara que ante um adversário mais forte é melhor pedir condições de paz que entrar numa batalha. “Ou qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil? De outra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores, e pede condições de paz.” Luc 14; 31 e 32
Vimos que o reconhecimento cabal da Glória de Deus era a condição para paz tanto na Terra quanto no Céu. Entretanto, temos um problema; o Mestre dissera: “Eu não recebo glória dos homens;” Jo 5; 41 Sendo Ele UM com o Pai, Deus receberia algo que Ele recusava? Na verdade, a glória a Deus nas alturas, “moeda” para aquisição da paz foi provida apenas pelo Salvador. “Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer.” Jo 17; 4 Quanto à glória Dele seria obra do Consolador, segundo ensinou: “Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.” Jo 16; 14
Assim, se o Senhor não recebe glória humana, antes, do Espírito Santo, e isso é necessário como condição à nossa paz com Deus, como faremos? Falando ao príncipe Nicodemos o Salvador ensinou: “…Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” Jo 3; 3 Depois o Mestre explicou: “O que é nascido da carne é carne, o que é nascido do Espírito é espírito.” V 6
Para nascer de novo precisamos morrer; aí entra a cruz, a paz com preço de sangue. Se em Adão dissemos que a morte não era ameaça suficiente para que tolhesse a desobediência, em Cristo, “O segundo Adão” reformulamos dizendo: “nós" estamos dispostos à obediência, mesmo que isso nos custe a vida. O que o Senhor fez sozinho restaura a glória de Deus nas alturas e redime Sua possessão que fora entregue ao inimigo na desobediência. “E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra.” Mat 28; 18
Afinal, na sua entrada trouxe a possibilidade de paz aos homens cantada por anjos; na Sua vitoriosa saída pagou o preço requerido pela justiça do Céu propiciando a paz por lá.
O sacerdócio humano que não fora bem compreendido pelos hebreus; jamais chegaria a tais excelsos lugares onde a purificação deveria ser feita; a instituição terrena era mero tipo. “Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus;” Heb 7; 26
A paz com Deus não deriva de conchavos, arranjos, interesses escusos como se dá no âmbito humano. Ela se estabelece automaticamente uma vez preenchidos os reclames da justiça. “Até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto; então o deserto se tornará em campo fértil, o campo fértil será reputado por um bosque. E o juízo habitará no deserto, a justiça morará no campo fértil. E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre.” Is 32; 15 a 17 Vemos a paz como consequência da justiça; essa, sendo alcançada apenas depois da habitação do Espírito Santo em nós, o novo nascimento ensinado por Cristo.
E a justiça Divina no que tange a cada um requer que tal creia e obedeça ao Salvador. Feito isso, a paz com Deus é imediata e produz resultados horizontais. “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor;” Heb 12; 14
Santificação requer justiça, e nessa, já vemos a “fisionomia” de Deus. “Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça; eu me satisfarei da tua semelhança quando acordar.” Sal 17; 15