Promessas, as leis que burlamos

“Eu digo: Observa o mandamento do rei, e isso em consideração ao juramento que fizeste a Deus.” Ecl 8; 2

Interessante que, ao invés de exortar ao comprimento da Lei de Deus, Salomão o faz em relação a uma lei humana; o mandamento do Rei. Se mesmo a Lei Divina a maioria desconhece, que dizer dos acordos terrenos? Certo, ele alude a um compromisso ante Deus. Afinal, obedecer às autoridades é preceito Divino. Ver Rom 13.

As promessas fúteis são usadas a torto e a direito não como soluções vindouras, que seria, o eventual cumprimento das tais; antes, como um paliativo imediato que sossega um pleito e quase nunca se cumpre no devido tempo. Assim fazem os políticos e a maioria de nós.

Ezequiel registra o episódio dum rei que fez acordo de vassalagem com aperto de mão, para ganhar tempo, até se associar a outro e se rebelar. “E tomou um da descendência real, e fez aliança com ele, e o fez prestar juramento; e tomou consigo os poderosos da terra, para que o reino ficasse humilhado, e não se levantasse, embora, guardando a sua aliança, pudesse subsistir. Mas rebelou-se contra ele, enviando os seus mensageiros ao Egito, para que se lhe mandassem cavalos e muita gente. Porventura prosperará ou escapará aquele que faz tais coisas, ou quebrará a aliança, e ainda escapará?” Ez 17; 13 a 15 “Portanto, assim diz o Senhor Deus: Vivo eu, que o meu juramento, que desprezou e minha aliança, que quebrou, isto farei recair sobre a sua cabeça.” V 19 Deus nem entrou no mérito da servidão em si, mas, no fato que o rei de Israel se comprometeu com aperto de mão e juramento ante Babilônia, e tão logo sentiu-se aliviado rebelou-se buscando apoio de Faraó. Em tal contexto o compromisso não é um ato de integridade, mas, mero rebento da astúcia, burlando a honra. Ante Deus proceder assim é loucura.

Se, por um lado a Bíblia exorta que sejamos prudentes, cautelosos ao falar, por outro, adverte que, se o fizermos, honremos o que foi dito. Dentre os predicados do cidadão celeste alistados no Salmo 15, um diz: “ainda que jure com dano seu, não muda.”

Claro que isso, ainda que seja desejável, cumprir o prometido, por si só não torna a promessa virtuosa. Como foi o caso de Herodes que se comprometeu solenemente a dar até a metade do reino à filha de Herodias. Acabou tendo que cumprir, mesmo que o pedido tenha sido a cabeça de João Batista. Então, a excelência não reside em cumprir o prometido, simplesmente; mas, em prometer a coisa certa e honrar o que disse.

O mesmo Salomão mencionou as promessas precipitadas ante Deus também; “Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra; assim sejam poucas as tuas palavras. Porque, da muita ocupação vêm os sonhos, e a voz do tolo da multidão das palavras. Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos; o que votares, paga-o. Melhor é que não votes do que votares e não cumprires. Não consintas que a tua boca faça pecar a tua carne, nem digas diante do anjo que foi erro; por que razão se iraria Deus contra a tua voz, e destruiria a obra das tuas mãos?” Ecl 5; 2 a 6

O Criador se queixa das promessas de fidelidade rapidamente esquecidas; “Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa benignidade é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa.” Os 6; 4

O fato é que somos emotivos, e, ao sabor das emoções tendemos a errar o tempero devido às palavras. Aliás, temperança é posta como fruto do Espírito, não derivada das emoções. Quanto ao contágio das emoções ruins Paulo adverte: “Irai-vos, mas, não pequeis.” Em se tratando das boas, quando estamos empolgados, há uma série de advertências para que sejamos comedidos com nossos lábios.

Afinal, legislamos para nós mesmo quando fazemos promessas, e essas leis são anotadas, para o dia do julgamento. “Então aqueles que temeram ao Senhor falaram frequentemente um ao outro; e o Senhor atentou e ouviu; e um memorial foi escrito diante dele,…” Mal 3; 16 Embora o contexto fale de um memorial positivo relacionado aos fiéis, um pouco antes ecoa as palavras dos infiéis, ante o Santo, e o Salvador advertiu sobre isso; “Mas eu vos digo que de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo.” Mat 12; 36