Jesus solta os bichos

“Disse eu no meu coração, quanto a condição dos filhos dos homens, que Deus os provaria, para que assim pudessem ver que são em si mesmos como os animais.” Ecl 3; 18

Eis um texto no qual a Bíblia “concorda” com Darwin! A diferença base é que ela não nos põe como animais que deram certo, evoluíram; antes, como um projeto que carece uma parte do original perdido, uma vez que não foi criado “em si mesmo”.

A obra regeneradora de Cristo pretende suprir essa “peça” extraviada que nos deixa como os bichos dotados apenas de corpo e alma; eventuais reminiscências espirituais são mortas, pois, o espírito humano divorciado do Criador jaz privado da vida idealizada na criação.

Especialmente hoje, dia de finados, muitos expressam esses anseios pós túmulo reverenciando entes queridos; embora me pareça mais que estão cogitando suas incertezas, desnudando inseguranças; antes, que, honrando antepassados. Lembranças dos meus que se foram estão em mim, não no cemitério; e as coisas que eu poderia fazer por eles cessaram com a fim de seu fôlego de vida natural.

Assim, por paradoxal que pareça, quanto mais vivo espiritualmente se está, menos se ocupa, alguém, de pacificar tais medos, uma vez que os não sente. A vitória de Cristo serviu, entre outras coisas, para que “… livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão.” Heb 2; 15

Eis uma parte em que o homem espiritualmente morto difere dos animais; esses não lidam com abstrações como passado, futuro, eternidade; desse modo o máximo que conseguem é ser adestrados via repetição, ou, aprender instintivamente as consequências de certos atos, seja pela dor, seja pela recompensa, não mais.

Assim, se o homem em si mesmo é como os animais, o é, na impossibilidade real de transcendência, posto que preserva em seu “DNA” o anseio por consegui-la. Desse filão nascem todas as religiões, rituais, idolatrias, superstições… de iniciativas humanas; como se fosse possível tirar os pés do chão puxando o próprios cabelos. Jesus disse: “Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” Jo 15; 5 Esse “nada” é cabal, não mera figura de linguagem, hipérbole.

Para estar em, e com, Cristo, Ele mesmo disse o que carecemos; “…Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” Jo 3; 3 Mais adiante ampliou: “…aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.” V 5 Assim, todo ser humano após a queda é nascido da carne. “O que é nascido da carne é carne”, explicou o Salvador; então, o homem logra esse salto transcendente quando se converte ao Senhor; deixa de estar em si mesmo, e passa a estar em Cristo.

Aliás, o si mesmo, o ego, é o primeiro traste a ser deixado de lado se, alguém anseia salvação. “…Se alguém quer vir após mim, negue a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.” Luc 9; 23 Afinal, o estar em Cristo traz como “efeito colateral”, estar no Espírito Santo; “Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa.” Ef 1; 13

Claro que isso não é mera religião; antes, uma transformação visível como cidade edificada sobre um monte; “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” II Cor 5; 17 Se ainda são os apelos naturais que dão as cartas na vida de alguém presumido cristão, ele está na igreja, não em Cristo. Claro que o salvo tropeça e falha; mas, quando o faz, presto busca o perdão do Senhor, ao invés de tentar se justificar; isso fazem os que ainda estão confiando em suas próprias astúcias, invés dos méritos de Jesus.

Por fim, ouso discordar de Salomão que escreveu aquilo supra; pois, a maioria dos homens sem Deus desce muito mais baixo que os animais. Bichos não são violentos, salvo predadores por sobrevivência; nem ladrões, corruptos, pérfidos, como muitos “grandes” do gênero humano. Sem querer ser engraçadinho, ofende aos bichos ser comparados com eles.

Portanto, urge cuidar da vida enquanto tempo; uma vez perdida não tem volta. Nossos medos são apaziguados por Jesus; questões dos vivos tratadas pelo que vive. Afinal, quando umas mulheres cogitaram instituir o “dia de finados” para reverenciar a Cristo um anjo as advertiu de sua insensatez; “…Por que buscais o vivente entre os mortos?” Luc 24; 5