Abandonado - contato visual
O que significa “contato visual?” Simplesmente a possibilidade de se ter um ponto de referência em relação a nossa própria posição, algo que indica que não estamos perdidos, que conhecemos o caminho de volta ao nosso refúgio original, independente do local para o qual a jornada da vida nos conduziu.
Quando eu era menino e me aventurava nas praias paulistas, penetrando mais e mais no mar, sempre fixava meus olhos em algum ponto e parava de avançar quando pensava que ele já estava muito distante.
Os faróis que guiam os navegantes são também pontos de contato visual que, embora não representem um elo físico com a embarcação, permitem que seja direcionado o navegar.
Quando uma criança passeando em um parque ou acompanhando os pais ao supermercado certamente entrará em pânico se constatar que os perdeu de vista, mesmo que isso seja momentâneo e eles estejam nas proximidades.
Apesar de não ser totalmente adepto do conceito de visualização da benção como elemento indispensável à sua materialização, uma vez que as respostas de Deus resultam de fé e esta é o firme fundamento de coisas que não se vêem( Hb 11:1 ), entendo que há momento em que a visualização da presença de Deus é fundamental para os resultados.
Minha convicção deriva da análise simples da Palavra em um episódio que pode ser considerado como dos mais extraordinários das escrituras:
“Então Elias tomou sua capa, e a dobrou, e feriu as águas, as quais se dividiram para as duas bandas; e passaram ambos em seco”.
Sucedeu, pois que, havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: Pede-me o que quer que te faça, antes que seja tomado de ti. E disse Eliseu: Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim.
E disse: Cousa dura pediste; se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará, porém, se não, não se fará .
E sucedeu que indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro, e Elias subiu ao céu num redemoinho.
E vendo Eliseu , clamou: Meu pai, meu pai, carros de Israel, e seus cavaleiros! E nunca mais o viu e, travando seus vestidos, os rasgou em duas partes.
Também levantou a capa de Elias, que lhe caíra: e voltou-se e parou à borda do Jordão.
E tomou a capa de Elias, que lhe caíra e feriu as águas e disse: Onde está o Senhor, Deus de Elias? E feriu as águas, e se dividiram elas para uma e outra banda: e Eliseu passou “.
II Reis 2:8-14
Essa é uma história que se situa absolutamente fora dos padrões normais e mostra um dos grandes milagres de Deus em relação a uma pessoa específica.
Os dois homens caminhavam juntos, mas no início Eliseu simplesmente desfrutava dos efeitos do poder de Deus em Eliseu. Porém, ao contemplar a ação divina esse poder foi transferido para ele de tal forma que o que fora feito por seu mentor era agora obra sua, ou seja, abrir um rio e passar em seco por ele.
Se o contemplar a presença de Deus, embora não possamos vê-lo diretamente, é algo extraordinário, a sensação de abandono divino se mostra extremamente dolorosa.
A “solidão interior” está mais relacionada com a frustração de metas e objetivos, pela idéia de que não somos reconhecidos pelos esforços que fazemos, pelo conceito de que as pessoas estão nos ignorando e de que somos “invisíveis” na multidão.
Tal sentimento “dói muito”, pois tudo que fazemos sempre objetiva que os outros vejam e aplaudam. Pense qual é a ambição de milhões de pessoas: simplesmente ter fama, ser um astro e veja que apesar da fama poder trazer fortuna existem pessoas, e não poucas, dispostas a gastar todos os seus averes para serem reconhecidas, isso porque tal posição lhes confere a sensação de que estão cercadas de atenção, seja isso verdade ou não.
Em geral a sensação de ter sido “largado” ocorre depois de estabelecida a idéia de que todos nos abandonaram e não tem qualquer relação com o estar sozinho uma vez que a Bíblia deixa claro, em vários exemplos, que a solidão pode ser, inclusive, instrumento de benção e de contato com o Eterno, exatamente nas horas mais críticas.
Moisés no deserto e no monte (Êxodo 3:19 e 24)
Jacó/Israel no vale de Jabote(Génesis 32:22-32)
Gideão malha o trigo (Juízes 6:11-40)
Jesus (Mt 26:36-46; Mc 14:32-42).
Essa idéia de que Deus não está mais conosco é algo que faz desmoronar por completo a estrutura de qualquer pessoa, e mesmo os “ateus” assim se declaram por estarem despreocupados da existência divina, que, no entanto permanece latente em suas mentes.
O mais forte exemplo de tal circunstância e de suas conseqüências nos é fornecido pela crucificação de Jesus, em que todos os sofrimentos que lhe haviam sido impostos são superados pelo maior de todos, o afastamento do Pai, o que, além de tudo, deve ser creditado como a razão de sua morte:
“E a hora nona, Jesus exclamou com grande voz, dizendo: Eloi, Eloi, lama sabactani? Que traduzido, é: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”.
Marcos 15:34
Observe que a história está repleta de heróis que entregaram suas vidas por uma boa causa, sofreram muito por isso, mas nada do que passaram pode ser comparado ao sacrifício de cruz.
Não estamos falando de chibatadas, não se trata dos cravos, da coroa de espinhos, é algo maior. Trata-se da realidade de alguém que esteve sempre, sempre, desde a eternidade, com Deus, que era Deus ( Jo 1:1 ) e que, subitamente, se vê afastado de Pai pelo meu pecado e pelo seu pecado.
Esse acontecimento nos permite observar um importante aspecto ligado ao comportamento divino, que iremos avaliar mais adiante.
Se desejar ir um pouco mais longe nessa análise do afastamento de Deus, eu o levaria a considerar que o maior objetivo do homem é salvar a sua alma( de que vale ganhar o mundo e perder a alma ( Mc 8:36 ).
A questão seguinte seria: salvar a alma do que? Do inferno? Da morte? Na realidade é muito mais do que isso, pois, tanto o inferno como a morte, deverão ser lançados no lago de fogo e deixarão de marcar presença( Ap 20:14 ).
Se a idéia é salvar a alma levando-a ao paraíso, vemo-nos diante da necessidade de esclarecer o conceito de paraíso, que pode também ser denominado reino de Deus.
Nesse ponto emerge uma informação básica, fundamental mesmo, uma vez que a Bíblia deixa claro que o reino de Deus não é uma simples extensão das boas coisas terrenas, embora segundo a Palavra nos será possível comer na vida eterna, as lágrimas serão apagadas e a violência estará fora de uso( Mc 14:25; Ap 7:17 e 21:4 Isaías 11:7; 66:25 ).
O reino de Deus é, no entanto, mais do que isso:
“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz e alegria no Espírito Santo”.
Romanos 14:17
Em outras palavras, o Reino de Deus é antes de tudo o poder conviver eternamente com o próprio Deus, glória e gozo supremos, enquanto que ser lançado no lago significa estar afastado do Senhor para sempre, tristeza e sofrimento eternos.
Mesmo os que não estão conscientes disso, anseiam por Deus permanentemente e procuram, pelos mais variados meios, preencher essa ansiedade com trabalho, diversão, ideais terrenos, etc, etc, que, uma vez fracassados, despertam a profunda lacuna que neles há, fazendo com que sintam a “solidão interior”, ou o “vazio de Deus”.
Se alguém imagina que se encontra isento do risco de se sentir abandonado , o que me parece difícil uma vez que praticamente todos já passamos, pelo menos por alguns instantes, pelo vale da sombra da morte, no qual a presença de Deus é indispensável (Salmos 23:4) , seria interessante recordar mais um fato ligado ao profeta Elias:
“E ele(Elias) se foi ao deserto, caminho de um dia, e veio, e se assentou debaixo de um zimbro: e pediu em seu ânimo a morte, e disse: Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais”.
...
E ele disse: Eu tenho sido extremamente zeloso pelo Senhor Deus dos exércitos... e, só eu fiquei, e buscam a minha vida para ma tirarem”.
I Reis 19
Elias, como já anotamos no início, era um homem muito especial para Deus e não chegou a conhecer a morte, pois Deus o levou em um arrebatamento prematuro.
Contudo, diante das pressões que estava sofrendo, concluiu que estava abandonado, que ninguém mais temia ao Senhor em Israel, e que sua vida seria ceifada pelo ímpio rei Acabe. Ele afirmava que não era melhor que seus pais, e nós certamente não somos melhores que Elias e, portanto, sujeitos a esse tipo de crise.
Você pode imaginar que sua identificação com Elias é uma abstração, e que não temos como levá-la a sério, mas a Palavra chama a nossa atenção para o fato de que ele era um homem como nós, mas que sua oração fez com que o clima fosse modificado. Isso também está a nossa disposição como meio de vencer os desafios.
“Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós, e, orando, pediu que não chovesse, e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra”.
“E orou outra vez, e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto”.
Tiago 5: 17-18
Reforçam a idéia da importância desse “contato visual com Deus” dois eventos em particular:
O acontecimento do deserto, quando o povo deixando de contemplar Moisés , que subira ao monte para falar com Deus, concluiu pelo abandono, e os judeus, levados pelo desespero de suas almas, pouco treinadas para resistir os desafios, fizeram um bezerro de ouro e o adoraram( Êxodo 32 ).
A sensação de afastamento de Deus é responsável por um volume imenso de prática comuns nos dias de hoje.
Leitura de horóscopos, surgimento de religiões baseadas em cultos a entidades várias, idolatria, defesa do ateísmo, e mesmo falsas doutrinas dentro da igreja dita cristã, idolatrias várias, além de um imenso volume de filosofias, fazem parte dos “bezerros de ouro” da atualidade.
Observe que existe um círculo vicioso no mundo: O PECADO AFASTA O HOMEM DE DEUS E O AFASTAMENTO DE DEUS FAZ FLORESCER O PECADO.
Outro exemplo que devemos analisar parte da bela, mas provavelmente desafiadora, experiência de Pedro, que, com olhar fixado no Mestre Jesus , andou sobre as águas, mas depois, pressionado pelo ambiente hostil do mar bravio, começou a naufragar( Mt 14:22-32 ).
Esse “link” com o Altíssimo é, pois necessário para que você possa ter uma vida espiritual válida e, felizmente, pode ser estabelecido para quem busca e espera no Senhor, como nos mostra a afirmação de Jó:
“Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos”.
Jó 42: 1 – (5)
Ele, ao dizer que somente ouvia Deus e que depois passou a vê-lo, demonstra que mesmo um homem cuja vida é tão especial que parece estar acima de todos os outros, pode crescer na relação com o Eterno até poder estabelecer o “contato visual” com o Senhor do Universo. Muitos têm ouvido de Deus, mas quantos realmente O vêem?
Entendido que estamos todos interessados em manter o contato visual com o Senhor, seria interessante que verificássemos quais os elementos que podem interferir nesse relacionamento especial.
O QUE IMPEDE O “CONTATO VISUAL”
• A prática continuada do pecado, uma vez que embora todos tenham pecado e mesmo o homem nascido de novo, está sujeito a erros, manter tais falhas como parte de nossa vida irá nos afastar de Deus, como nos esclarece Isaías, e como ficou demonstrado no sacrifício de Cristo.
A mão do Senhor não está encolhida(Isa 59:1)
Jesus separado de Deus pelos nossos pecados(Mc 15:32)
• A dúvida e o medo são elementos que divergem completamente da forma na qual Deus age, e a Palavra já nos ensina que duas pessoas não podem caminhar juntas se não estiverem de acordo . “Vemos” a Deus por meio da fé e dos efeitos que essa fé provoca no nosso dia a dia.
Pedro no mar (·Mt 14:22-32).
Se creres, verás (João 11:40).
O medo contraria o amor e Deus é amor (I João 4:18).
• A influência das outras pessoas (multidão) pode ser muito importante, uma vez que as elas, principalmente as que não andam com Deus, são opacas à demonstração da presença de Deus e podem formar uma barreira para nossa visão espiritual.
Zaqueu não pode ver Jesus devido à multidão(Lc 19: 1-10)
A multidão não é boa influência (·Ex 23:2).
• Aceitar que o poder das circunstâncias domine nossa mente não é mais do que uma prática comum, uma vez que é mais fácil sentir a dor e o mal-estar, provocados por uma enfermidade, uma mágoa, ou uma derrota do que visualizar o alívio, a cura, a paz e a vitória, que ainda estão se materializando na eternidade. Isso aconteceu não poucas vezes com o povo de Israel, e provavelmente já teve lugar em sua vida.
Golias(I Sm 17:23-24)
Diante da terra, mas sem tomar posse( Gn 13:18-33 e 14:1-4)
• A ação negativa da tristeza causada pelos problemas e sofrimento.
Certamente não é no momento da tristeza que iremos nos encontrar mais qualificados em buscar a Deus e reconhecer sua presença ao nosso lado. Os discípulos de Jesus andaram longo trecho com ele, simplesmente “chorando as mágoas” de o terem perdido na morte de cruz. Frente a frente com a bênção, mas sem identificá-la.
Os discípulos no caminho de Emaús. (Lc 4:13-34)
COMO DEUS TRATA DA QUESTÃO E RESOLVE O IMPEDIMENTO, PERMITINDO QUE VOLTEMOS A VER.
• Ele perdoa os pecados cometidos, sejam eles quais forem.
Sl 103:3: I Jo 1:9; II Cr 7:14; Jr 50:20; Isa 38:17; Isa 1:18.
• Ele expulsa a dúvida e dá créditos especiais para a fé.
Gn 15:6; Isa 28:16 e 43:10; II Reis 6:17.
• Ele nos ama com amor sem igual.
Pv 8:17; Gl 2: 20: Jo 16:27; Jo 3: 16; Rm 5:8; Jo 15:13.
• Ele trabalha por nós.
Jo 5:17; Isa 64:4.
• Ele cuida de nos manter sob seu olhar.
Pv 22:12; Sl 33:18; Dt 11:12; Jo 28:10; Pv 15:13; Am 9:8;Sl 33:13;Isa 45:22.
6. Ele nega a importância do medo.
Isa 8:13; Mt 10:31; Isa 8:12; Ex 14:13; Nm 14:9; Js 8:1; Sl 27:1 e 46:1.
Conclusão
A sensação de estar abandonado é, algumas vezes, mais forte do que a própria realidade do afastamento de Deus, pois ela representa algo que não é verdadeiro e, portanto, pode ter a dimensão da imaginação, tornado-se do tamanho de uma montanha, do planeta, do Universo.
Quando isso acontece, não sobra espaço para a fé, a esperança, para a alegria, para a presença do próprio Deus.
Mas se não estamos falando de um fato real, o fantasma do abandono deve ser ignorado, expulso, tirado de nossa vida e poderemos, novamente, recobrar as forças e a alegria.
Deus ama você, embora esteja em um alto e sublime lugar indevassável para nós na condição de carne e sangue, e Ele vem até você e o acolhe nos braços como uma mãe que acalenta o seu filhinho.
Mesmo que você esteja em pecado, que tenha agido com incredulidade, que tenha se desviado de seus caminhos, tais coisas são encaradas por Ele como se estivesse tratando com crianças, o que realmente somos, e está disposto a perdoar, esquecer, se necessário, aplicar um corretivo para que não venhamos a errar de novo. Deus, porém, jamais nos abandona.
“Mas Sião diz: Já me desamparou o Senhor, o Senhor se esqueceu de mim”.
Pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse, eu, todavia , me não esquecerei de ti.”
Eis que nas palmas das minhas mãos te tenho gravado: os teus muros estão continuamente perante mim.”“.
Isaias 49: 15-16.
“Lembra-te destas cousas, ó Jacó, e o Israel, porquanto és meu servo; eu te formei, meu servo és, ó Israel: não me esquecerei de ti ”.
Isaías 44: 21