COMO DEUS É SÓ DEUS MESMO
Era isso que Cotinha sempre falava para os seus netos.
Eles sabiam de muitas coisas da vida dela. Por exemplo,
que ela nascera no ano da abolição dos escravos. Dizia
que quando as ruas fervilhavam de negros e abolicionistas
festejando , ela era um bebezinho de sete dias. Em 1888.
Depois, ela era uma menina que ajudava em casa. O pai e
os irmãos lidavam com a plantação de cana- de- açúcar.
E a família produzia melado, rapadura, além de farinha,
já que eles eram proprietários de uma casa de farinha também.
Mas, como sempre, o tempo rolou. E passados tantos anos, eis que Cotinha se tornara esposa, mãe, avó e bisavó.
Era uma mulher de fé, temente A Deus. E teimosa. Fazia
questão de morar sozinha para não incomodar ninguém.
Gostava de plantar e até pescar num pequeno córrego que passava na sua propriedade. Mas, com a idade avançando, foi preciso deixar com ela um bisneto de onze anos, que morava no povoado ali perto.
Um dia, Cotinha acordou preocupada. Estava sem dinheiro e a cozinha estava vazia. Não tinha nada pra preparar o almoço para o menino. Fechou os olhos, conversou Com Deus, pedindo uma solução. Precisava muito e sabia que seria atendida.
Quando abriu os olhos, reparou que a vara de pescar estava ali perto. Mandou que o menino procurasse umas minhocas para iscas.
E seguiram para o córrego , onde pescaram um peixe até grande, num lugar onde só havia piabinhas. Parecia impossível!
_ Como Deus, É só Deus Mesmo!_ pensou ela.
Contente, foi preparar a moqueca. E para completar a bênção, chegou uma vizinha com uma panela cheia de arroz, já que ia viajar e se lembrou de trazer para Cotinha.
Não é ótimo saber que Deus Cuida de nós?
Mas também, temos que fazer a nossa parte. Cotinha e o bisneto tiveram que pegar a vara e pescar.