SEXAGÉSIMA SEGUNDA AULA DE TEOLOGIA.
SEXAGÉSIMA SEGUNDA AULA DE TEOLOGIA.
POR HONORATO RIBEIRO.
Mateus escreve seu evangelho didático, catequético, cristológico que nos ensina dizer sempre “sim” ou o não. É didático porque ensina como viver cristamente a vida radical a serviço do outro. É amar desinteressadamente com dedicação. Viver cotidianamente trazendo para dentro de si os valores doutrinários do evangelho. Os cristãos sentiram que sem viver a paixão de Cristo não viveriam radicalmente a vida como cristão, pois, o viver estaria incompleto sem os ensinamentos de Jesus. Agora iremos relatar a paixão de Jesus segundo Mateus.
Jesus deixou os onze apóstolos e foi orar. [Judas não estava]. Mas escolheu três dos apóstolos e se afastou dos outros. Jesus começou a entristecer-se. Disse-lhes: “Minha alma está triste até a morte. Ficai aqui e vigiai comigo. Adiantou-se um pouco e, prostrando-se com a face por terra, assim rezou: “Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! “Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres.” Foi ter então com os discípulos e os encontrou dormindo. E disse a Pedro: “Então não pudestes vigiar uma hora comigo... Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca”. [Mt 26, 36-41].
Iremos fazer aqui uma exegese de todo o relado da paixão. Eu estou com a minha alma tão triste que não consigo mais ter ânimo para viver. Prefiro que venha logo a morte. Essa foi a tristeza psicológica e somática de Jesus a ponto de ele suar sangue a correr pela terra. [Lc 22, 44] Lucas era médico, por isso ele faz esse relato psicológico dos sofrimentos e angústias de Jesus. [hematridose, suar sangue]. Afastai de mim este cálice, isto, é, este sofrimento da paixão; mas eu prefiro fazer a tua vontade. [Que grande e forte catequese!]. Aqui está o Jesus terrestre, o Jesus homem de carne e osso, frágil como Adão, menos a pecar ou fazer a sua vontade, mas a do Pai. Não há mais necessidade de imolar um cordeiro a oferecer em sacrifício de sangue a Deus para expiação dos pecados. Aqui, Jesus afirmativamente diz: “Não seja a minha vontade, Pai, mas a vossa.
No primeiro século, os cristãos ficaram indiferentes e chegaram a si escandalizar dizendo: “Que homem é este? Que afirmou ser Deus e agora ele fica triste, ora sem parar, pede ao Pai para lhe afastar dos sofrimentos?!” “Sócrates foi mais corajoso, pois, enquanto os seus discípulos choravam e pediam para ele não beber o veneno que lhe deram para provar que a sua alma era eterna e não iria morrer tomando a cicuta, ele bebeu, deitou-se na cama e pediu aos discípulos para lhe cobrir com a coberta e morreu.” Mas este pensamento, este escândalo horrível desapareceu completamente após a ressurreição de Jesus. [Se Jesus não tivesse ressuscitado, vã seria a nossa crença nele]. Compreenderam que a paixão era necessária para destruir a morte e ressuscitar gloriosamente, o que não aconteceu a Sócrates de ressuscitar para dar a vida à humanidade. Sócrates suicidou crendo na imortalidade da alma. Jesus morreu para destruir a morte e nos dá a vida eterna ressuscitando gloriosamente. Então os discípulos e apóstolos creram em Jesus e com grande coragem anunciaram o evangelho e davam testemunho da ressurreição.
Quando Jesus estava orando pediu para os apóstolos que vigiassem, pois a carne é fraca, mas o espírito está pronto, isto é, alimentado pela a oração e reabastecido pela fé. “Afastai de mim este cálice, isto é, estes sofrimentos. Vigiai, os guarda noturnos, o que vigiam dia e noite com segurança, mas este “vigiai” está em outra direção; é mais profundo, pois há muitas tentações para desviar-nos de crer na vida eterna, crer na ressurreição, crer que Jesus nos ensinou a amar e perdoar. Nisso a carne, isto é, o homem biológico é mais atraído pelo mundo das vaidades, da luxúria e da perdição. Aí está a fraqueza nossa de competir, de correr e não ter tempo para nada da vida espiritual. [Livrai-nos do mal].
O tempo hoje é curto e as noites também, pois, dormimos pouco de tanto corre-corre atrás da vida consumista e econômica. As angústias de Jesus foram a luta de si mesmo com Deus para a destruição definitiva da morte. Ao chamar Lázaro para a vida, Jesus chorou de raiva para destruir a morte individual de Lázaro. No Getsêmani ele entra em angústia, que é a luta de vencer através da sua paixão e morte, matando-a para dar vida a todos.
Jesus nos apresenta três maneiras de enfrentar a morte. [Na nossa vida temos de enfrentar também]. A primeira é prolongá-la com recurso da medicina. [hoje com recurso tecnológico da medicina moderna se prolonga]. A segunda é crer na ressurreição para trás, isto é, para a vida terrestre. [Está esperando a hora, está em coma, mas reviveu milagrosamente.] Jesus ressuscitou a filha de Jairo. [Ressuscitamento de Lázaro]. A terceira é atravessar a morte para depois com Jesus ressuscitar para frente, isto é, para a glória eterna. Jesus passou por as três etapas.
[Livrai-nos do mal], pois a carne é fraca, mas o espírito está pronto. Não podemos dormir como as virgens loucas. Precisamos vigiar, pois o Senhor da vida poderá chegar a qualquer hora. Esta dramatização da Paixão que Mateus escreveu, é mais uma catequese do que realmente o que ele relata sobre Jesus agonizante.
Chegou a minha hora e vocês estão dormindo! [Chegou a hora nossa que Jesus vem para a nossa partida]. Os apóstolos não estavam preocupados com a agonia de Jesus, por isso dormiram. Esta é uma catequese forte, pois, para ser cristão devemos nos preocupar com os nossos irmãos, quando estão sofrendo, chorando de tantos sofrimentos e nós não nos preocupamos com eles. Dormimos, isto é, não nos preocupamos com aqueles que estão agonizantes. [Símbolo de Jesus]. Veja que Mateus dramatiza tudo para fazer uma ótima catequese e uma pastoral para a sua comunidade e para nós também. Devemos compreender muitas coisas escritas nos evangelhos que são relatos catequéticos, pois, foram escritos nos anos oitenta e noventa e não nos anos vinte com o Jesus terrestre. Uma coisa é escrever quem foi Jesus; [anos vinte] outra é contar o que ele falou e ensinou em sua vida pública. [anos oitenta e noventa].
hagaribeiro.