POR QUE DIVIDIDOS? Resposta de João Paulo ll sobre o ecumenismo

No ano de 1993, quando seria comemorado o 15º aniversário de Pontificado de João Paulo ll, o Santo Padre concedeu uma entrevista a RAI. Essa entrevista foi transformada em um livro, de autoria do próprio entrevistador: Vitório Messori, que se intitulou “Cruzando o limiar da esperança” De onde extraímos a pegunta abaixo com a respectiva resposta do Santo Padre.

POR QUE DIVIDIDOS?

PERGUNTA

Os desígnios de Deus muitas vezes são imperscrutáveis: somente no além será nos dado “ver” realmente e, portanto, compreender. Entretanto, talvez possível obter desde agora um vislumbre de resposta à pergunta que, ao longo dos séculos, foi colocada por tantos crentes? A saber: Por que o

Espírito Santo teria permitido tantas e tais divisões e inimizades entre aqueles que no entanto se dizem seguidores do mesmo Evangelho, discípulos do mesmo Cristo?

RESPOSTA

É isso mesmo, poderíamos de fato perguntar-nos: POR QUE O ESPÍRITO SANTO PERMITIU TODAS ESSAS DIVISÕES? Em geral, as suas causas bem como os mecanismos históricos são conhecidos. Entretanto, é legítimo perguntar-nos se não há também uma motivação meta-histórica.

Para essa pergunta podemos achar duas respostas: Uma, mais negativa, vê nas divisões frutos amargos dos percados dos cristãos. A outra, pelo contrário, mais positiva, é gerada pela confiança Naquele que tira o bem até mesmo do mal, das fraquezas humanas: por isso, não poderia ser que as divisões tenham sido também um caminho que levou e leva a Igreja a descobrir as múltiplas riquezas contidas no Evangelho de Cristo e na redenção operada por Cristo? Talvez tais riquezas não pudessem vir à luz de maneira diferente....

Numa visão mais ampla, de fato pode-se afirmar que, para a consciência humana e para a ação humana, é significativa também uma determinada dialética. O Espírito Santo, na Sua condescendência divina, não levou isso de algum modo em consideração? É necessário que o gênero humano alcance a unidade através da pluralidade, que aprenda a reunir-se na única Igreja, mesmo no pluralismo das formas de pensar e de agir, das culturas e das civilizações. Semelhante maneira de entender não poderia ser, em certo sentido mais consoante à sabedoria de Deus, à Sua bondade e providência?

Todavia esta não pode ser uma justificativa para divisões que se aprofundam cada vez mais! Há de chegar o tempo em que se manifeste o amor que une! Numerosos indícios fazem crer que aquele tempo efetivamente já chegou e, por conseguinte, resulta evidente a importância do ecumenismo para o cristianismo. Isso constitui uma resposta ao convite da Primeira Carta de Pedro a “dar vazão da esperança que está em nós” (cf. 1Pd 3,15)

O respeito recíproco e uma condição preliminar para um ecumenismo autêntico. Lembrei há pouco as experiência vividas no pais onde nasci e sublinhei como os acontecimentos de sua história nele formaram uma sociedade pluriconfessional e plurinacional, caracterizada por grande tolerância nos tempos em que no Ocidente se realizavam processos e se acendiam as fogueiras para os heréticos; o último rei polonês da linhagem do Jaquelones deu prova disso com as palavras: “Não sou rei das vossas consciências.”

De resto lembremos que o Senhor Jesus conferiu a Pedro tarefas pastorais, que consistem em manter a unidade do rebanho. Por isso, no ministério petrino há também o ministério da unidade, que se concretiza em particular no campo ecumênico. A tarefa de Pedro é procurar constantemente os caminhos que servem à manutenção da unidade. Por isso, ele não deve criar obstáculos, mas procurar caminhos. O que de modo algum está em contradição com a tarefa que lhe foi entregue por Cristo de “confirmar os irmãos na fé” (cf. Lc 22,32 ). Além disso, é sintomático que Cristo tenha pronunciado estas palavras precisamente quando o Apóstolo estava prestes a renegá-Lo. Era como se o próprio Mestre quisesse servir-lhe: “Lembra-te que és fraco, que tu também necessitas de uma conversão contínua. Podes confirmar os outros na medida em que tens consciência da tua fraqueza. Dou-te como tarefa a verdade, a grande verdade de Deus, destinada à salvação do ser humano, mas esta verdade não pode ser pregada e realizada de nenhuma outra maneira se não amando.” É necessário, sempre, VIRITATE FACERE IN CARITATE (fazer a verdade na caridade( cf. Ef 4,15

Antônio Oliveira
Enviado por Antônio Oliveira em 13/08/2011
Reeditado em 13/08/2011
Código do texto: T3157827