O vinho novo
“E ninguém deita vinho novo em odres velhos; doutra sorte, o vinho novo rompe os odres e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; o vinho novo deve ser deitado em odres novos” Mc 2; 22
Se observarmos o contexto, veremos que os críticos de Jesus acusaram seus seguidores de agirem de modo diverso, não jejuando como os outros. Na verdade, no quesito Jejum, o “vinho velho” era um ascetismo indiferente onde se abstinham de alimento e empanturravam-se de pretenção e indiferença, atitude denunciada por Zacarias. “Quando jejuastes, e pranteastes, no quinto e no sétimo mês, durante estes setenta anos, porventura, foi mesmo para mim que jejuastes? Ou quando comestes, e quando bebestes, não foi para vós mesmos que comestes e bebestes?” Zac 7; 5 e 6 Então, se aquele fora um jejum egoísta, inútil, como seria jejuar para o Senhor? “Executai juízo verdadeiro, mostrai piedade e misericórdia cada um para com seu irmão. E não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente cada um, em seu coração, o mal contra o seu irmão.” Vs 9 e 10 O jejum que agrada a Deus, pois, não é abstinência de alimento, mas, de egoísmo, de indiferença. Não foi em vão a exortação do Salvador; “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício...” Mat 9; 13
Aludindo aos planos futuros de Deus, o profeta mencionou um tempo de jejuns alegres, festivos, alicerçados na verdade e na paz. “...: O jejum ... será para a casa de Judá gozo, alegria, e festividades solenes; amai, pois, a verdade e a paz.” 8; 19 Esse era o “vinho novo” que trouxera Jesus. Muitos ainda o misturam com odres velhos, tentando fundir judaísmo e cristianismo, aliás, foi a um príncipe do sinédrio que Cristo advertiu: “ Aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus.” “...não pode entrar.” Jo 3; 3 e 5
Os odres novos, pois, são vidas renascidas pelo Espírito e a Palavra, cuja abstinência consiste mais em se preocupar com o próximo, (misericórdia) que consigo mesmo, (sacrifício) uma vez que se espelham na excelsa misericórdia do Senhor, e descansam na suficiência plena de Seu sacrifício. Não que não seja válido o jejum, sobretudo, como exercício em domínio próprio, e mortificação da natureza; agora, parafraseando Paulo: Ainda que eu jejuasse quarenta dias e quarenta noites como Moisés e Jesus, se não tivesse amor, nada seria.
O fato é que vivemos tempos em que as igrejas viraram empresas, e as ovelhas, números, de modo que, essa preocupação altruísta, padece seu jejum forçado. A parábola do Bom Samaritano ilustra de modo insuperável a diferença entre a religiosidade vazia, e o amor em ação. Sejamos, pois, frutos aprazíveis ao Senhor, deixando-nos esmagar, se for o caso, para produção do “vinho” que alegra Seu coração, afinal, Ele não precisa passar aquilo de novo. “...na minha sede me deram a beber vinagre.” Sal 69; 21